31 de outubro de 2015
Meninas, dia desses uma amiga trouxe no celular umas anotações. Ela
tinha acabado de sair de um evento e uma das atrações ali tinha sido um
bate-papo.
“Vem cá ver, João”, ela disse.
Eu fui e vi. Na telinha, em pontos, ela batucou umas dicas, uns
temores, uns defeitos que os homens vem cometendo na hora do sexo.
“Acho que pode te ajudar a escrever algo”, disse a amiga.
Concordei.
Nesse evento que minha amiga carimbou com a presença e com o dedinho
anotador no celular, as moças sentadas sobre o palco (tinha atriz, tinha
psiquiatra, tinha psicóloga, tinha blogueira e mais grande elenco)
levantaram uns tantos pecados que os homens cometem na cama e não sabem.
Ela me disse alguns deles.
Por exemplo:
“João, você sabia que as mulheres, em geral, acham que a maioria dos homens vem mandando mal ou mais ou menos no sexo?”
Eu não sabia. Mas imaginava. Os tempos andam estranhamente estranhos.
Fale com ele: Sinto tédio no meu relacionamento. É sinal de fim? Como lidar com esse tipo de insatisfação?
Ela prosseguiu:
“Muitos homens pensam que transar com uma mulher é tipo… Tipo um
ENEM. Um ENEM solitário. Que a meta é pontuar. Que a meta é fingir saber
aquilo que não sabe.”
Achei a comparação interessante e pedi mais. Ela deu:
“Sabe aqueles caras que encaram o amorzinho suado como se fosse um teste, uma prova, uma avaliação de desempenho?”
Eu disse que não sabia, mas imaginava.
“Pois então. Parece que cada vez mais ou homem tá dividido entre ser um cara que tem algo a provar ou que… tem medo”.
Meninas, vejam se vocês não concordam com a minha amiga:
“João, esse caras, na hora de transar, querem cumprir tipo um ritual,
sabe? É como se o sexo deixasse de ser um encontro em duas pessoas que
se conhecem em pé e agora vão se conhecer deitados. Uma conversa
deitada. Pra mim, o sexo é isso. Então, deveria poder caber no sexo o
erro, a preguiça, o dia bom, o dia ruim. Mas não. Tem tanto cara
repetindo essa coisa de redes sociais, de vender uma imagem de
perfeição, de botar filtro nas experiências, que, repara: na cama eles
querem tentar de tudo, um monte de movimentos, de barulhos, de
preocupações… Mas é tudo meio vazio. Meio egoísta. Como se a trepada
fosse uma conquista que eles desenharam na própria cuca. E isso quando o
cara ao menos se preocupa… Tem uma parte de vocês que acha que transar é
só penetrar, que acha que pra fazer a gente gozar é só praticar um sexo
oral em que a língua parece um amolador de faca. Fora aquele mala que
tá mais preocupado em saber se você gozou não porque pra ele é
importante você gozar, mas porque você gozar é um sinal de que ele manda
tão bem quanto acha que manda…”
Fale com ele: Dez coisas que mulheres fazem na cama e são a mais pura alegria dos homens
Enfim, ela foi ao finalmente:
“Sei lá, João. Eu sei que parece exagero. E que muitas vezes esse
mesmo cara que um dia mandou mal, foi egoísta, às vezes manda bem. E que
o mundo é complicado. Mas é que eu realmente venho notando uma espécie
de insegurança segura dos homens diante da gente na cama. E queria saber
o lado de vocês… O que é que a gente faz numa trepada que vocês não
gostam (até porque, outro coisa de vocês homens: por que é que vocês não
falam mais sobre sexo com a gente?)?”
Meninas, eu pensei e fui atrás da resposta com amigos.
Dessa pesquisa, extraí uma listinha.
Esta:
DEZ COISAS QUE MULHERES FAZEM ERRADO NO SEXO
1-PAU NÃO É DE PAU
Os homens mandaram avisar que vocês deveriam encarar o bastonete que
eles trazem debaixo da cueca como aquilo que é: carne, pele, e não
madeira e ferro. Um dos maiores traumas masculinos (e, de fato, vocês
têm razão, meninas: homens aguentam isso calados) é encarar a mulher que
vê o pau como se pau fosse. Aquelas que apertam, aquelas que puxam a
chapeleta (conhecem a chapeleta? É a pelezinha que cobre a cabecinha)
lááá pra baixo, aquelas que manejam como se abrissem um pacote de
sorvete com a maior das pressas… Pois saibam, o sorvete derrete.
2- A COMPLEXIDADE DE UMA BROXADA
Moças, ainda na mesma cama temática, anotem: a cada 7 broxadas, 6 são
culpa do universo. O que quero dizer com isso é que, quando um homem
afrouxa, geralmente o motivo é um pacote de motivos. Tem um pouco a ver
com algo que você fez e ela não gostou? Pode ser. Tem a ver com ele ter
se decepcionado com você pelada (um medo, me sopram aqui as mulheres,
que muitas de vocês têm)? Raramente. Homens são realmente meninos
eternos, sempre numa empolgação maluca diante de uma nova nudez.
Portanto, tem muito menos a ver com vocês do que parece. Sério, se tem
uma coisa que irrita um rapaz é quando ele percebe que na hora em que
ele falha, você, moça, tá mais preocupada com o que isso quer dizer
sobre você, moça, do que com o tormento que é esse momento pra ele,
moço. Ou seja, meninas, ou seja: quando ele falhar, saibam que
provavelmente uma tonelada de coisas aconteceu num espirro (e saibam
mais: às vezes, é mesmo um espirro d’alma: cansaço derruba poste. Não é
necessariamente lorota do rapaz quando ele diz que tá nervoso, tenso,
com vergonha. O motivo quase sempre é um desses aí mesmo, aliás). E
saibam ainda mais que, quando ele falhar, outras duas toneladas de
coisas e tristezas surgirão na cuca dele. Por dentro ele está menor e
mais frouxo que o pinto.
+Fale com ele: Como levantar o assunto ménage à trois? Qual a melhor forma de falar das fantasias sexuais com o parceiro?
O sonho de um rapaz: uma parceira que na hora da pane, lide com a
pane como ela é: aconteceu, resolvamos juntos, no tempo certo. Sem
pressa, sem cara feia ou triste. Acontece com todo rapaz e é
normalíssimo. Ah, sim: um adendo. Muitas vezes quando o cara goza rápido
demais ou falha, isso é até uma espécie de elogio torto e mole: ele tá
tão pilhado, com tanta vontade, ou tão impressionado, que o sistema aqui
entra em colapso. Uma boa broxada é uma belíssima chance de viver uma
belíssima alegria. Basta relaxar. Você e ele, aliás. Os dois.
PS: O RITMO DA TRANSA
Ao contrário do que muita gente pensa, nem todo homem gosta de uma
trepada britadeira. A gente também curte devagarzinho, e rápido, e mais
ou menos. Às vezes, depende do dia, uma coisa ou outra. Às vezes,
depende do gosto, e a vontade é sempre a mesma. Às vezes, depende do
encaixe com você. Enfim, depende. Agora, uma coisa complicada é você
esquecer, como vou explicar no próximo item, que homens são capazes de
gozar 45 segundos depois do primeiro beijo. E que a gente briga a
paulada com a própria cuca pra coisa durar. Sobretudo quando é boa. E
que, portanto, prestem atenção no nosso ritmo também. Quando a gente dá
aquelas paradinhas no meio, nem sempre é cansaço. Às vezes é só um
fôlego mental pra não desembestar numa subida linda ao pico da alegria
melada aos 45 segundos do primeiro beijo.
PS2: MAIS UMA COISA SOBRE O RITMO DA TRANSA
Meninas, sei que algumas de vocês sentem mais prazer quando a trepada
é num ritmo de bicadas de pica-pau. Uma coisa velocíssima, sem parar,
por minutos. Mas saibam: isso aí é legal, a gente curte, mas isso também
cansa, machuca as pernas, dói as costas, o pulmão cresce, os braços
tremem. Não esqueçam disso: ao contrário daquela mágica maratonista dos
filmes intensamente sensuais, na vida real há câimbra, torcicolo,
estiramento e falta de fôlego. Nem sempre a trepada britadeira é a
grande trepada. E tenham pena do rapaz se ela durar muito. Aceitem um
descanso, se ele pedir. Mudem de posição também. Dividam o exercício.
Arrisquem de mais jeitos.
3- GOZAR JUNTOS
Taí um mito. A gente, sei lá por qual diabo, inventou essa de que
gozar junto é o ápice, o cume, a copa do mundo, o troféu, o rojão, o
sinal de perfeição entre um casal. E querem saber? Groselhas! Quando a
gente goza junto, daquele jeito especial e raro, é uma beleza, não nego,
quero mais. Mas esqueçam dessa pressão. Se não der, não deu. Prometi lá
em cima que ia explicar, agora explico: anotem: em geral, um homem é
capaz de gozar literalmente 45 segundos depois de começar uma trepada. A
nossa luta, a cada boa transa, é a luta de fazer a coisa durar um tempo
bacana pros dois. Saibam disso, anotem de novo isso. Portanto, quando
vocês quiserem gozar, gozem. Quando sentir que o ápice tá chegando,
deixa ele saber, pra que o rapaz possa segurar ou liberar os ponteiros.
Agora, quando você perceber que ele tá quase lá, fica tranquila também.
Deixa rolar. Não sei por qual diabos a gente inventou que quando um goza
primeiro as coisas meio que acabaram. O bom sexo começa, para, volta,
dorme e acorda…
4- O SILÊNCIO, O SONO, SOLIDÃO PÓS COITO
Um ponto delicadíssimo da alma masculina é este ponto 4. Eu sei que é
duro de vocês aceitarem, mas muito homem, dependendo do dia, depois do
sexo, nossa, bate um não sei o que, um não sei por que, um troço tão
maluco: uma vontade de ficar sozinho, de ir embora, de dormir, de
silenciar, como se o destino e o próximo passo dele pertencessem mais à
lua do que àquela cama. Algum cientista certamente haverá de saber o
motivo químico disso, mas saibam o motivo anímico: tem dias em que a
gente fica mesmo estranho, quer ficar só. E não é por mal (tá, se for
sempre, aí é malandragem. Só que muitas vezes, não é.).
5- SEXO EM ROTINA E COM PREGUIÇA
Tudo bem que no cartório, a frase aí de cima traz a nossa assinatura
reconhecidíssima: homens são igualmente morosos e acomodados. Mas vamos
dividir esta missão: tentemos, pois, não deixar as coisas esfriarem na
repetição eterna da posição de sempre, da falta de vontade, de esperar
do outro aquilo que não fazemos. Se tem uma coisa que entristece um
homem é notar que a companheira entra na transa como se cumprisse um
ritual: o mesmo papai-e-mamãe semanal, ou a posição que for mais
confortável pra você toda vez; a pouca empolgação, a pouca surpresa, a
pouca iniciativa.
+Fale com ele: Por que alguns homens ficam estranhos, calados ou querem ir embora depois do sexo?
A gente sente quando sabe que você sabe que gostamos de tal coisa, e a
tal coisa nunca mais aparece na cama. E mais, moças: homens, ao
contrário do que muita gente boa imagina, gostam de iniciativa. Gostam
de perceber uma taradice vinda da sua parte, de vez em quando ou toda
vez. Tenho um amigo. O sonho dele é que a namorada um dia repita uma
manhã em que ela o acordou com a boca dela nos baixios dele. Ele não
esperava, ele adorou aquilo, ele nunca mais viveu aquilo.
Claro, todo mundo pode ser razoável e entender o básico do mundo: nem
sempre dois querem as mesmas coisas ao mesmo tempo. Mas quando há
exagero no desacordo, na distância dos quereres, na apatia, a gente aqui
sofre. Vocês aí sofrem.
6- BEIJO MECÂNICO
De novo, tem muito homem que faz isso também, então podem ficar
tranquilas, uma fatia desse problema é nosso. Mas tem poucas cosias mais
morrinhas do que a mulher que beija com preguiça. Sabe? Aquele beijinho
de quem beija a testa de uma estátua. Ah, moças, todo rapaz sente falta
daquele beijo cheio de profundidades, como se vocês estivessem selando
uma carta com a língua. Não desistam desse beijo.
7- NÃO AVISAR
Se tem uma coisa que você precisam saber é que, na cama, a gente só
finge controle. Todo homem, no fundo, é perdidaço quando amassa o
lençol. Ele não faz ideia se você tá realmente gostando, quanto tempo
falta pra você chegar lá, se é que você vai; e se você curte mais assim
ou se tá ficando assado.
O lance: a gente tenta, de todo jeito, ler o que você diz e o que você
não diz. Mas o ponto é que não fazemos ideia, em mais de um sentido,
qual é a língua feminina do sexo. Todo homem é quase um analfabeto
sensual. E cada um de nós sente vergonha disso.
+Fale com ele: Tenho dificuldades para gozar com penetração. Finjo que chego lá ou não?
Mas vocês podem ajudar com esse idioma tão estrangeiro. Homem não se
incomoda quando é avisado de uma gozada iminente. Ao contrário, ele
gosta. E, mais ainda, homem não se incomoda se você explicar pra ele que
quando você diz que a gozada é iminente, ele não precisa imitar o filme
pornô (essa grande e fajutíssima escola masculina) e acelerar os
movimentos como se fosse um DJ André Marquesiano num frenesi de
toca-discos praiano. Explica pra gente que é só manter o ritmo. Fala
gemendo. Geme falando. Mostra qual que é o caminho, o que funciona, o
que é desastre.
8- O SILÊNCIO
Meninas, a gemida tá liberada. Falar besteira é legal. Não ter
vergonha é uma felicidade. Evidentemente, fazer tudo isso como se fosse
uma performance, não precisa. Homens sentem quando vocês fingem. Mas
quando vocês tiverem vontade de soltar o grito, falar um monte de coisa
só com vogais, pedir não sei o quê, peçam, digam, soltem, gritem. Não
tem coisa mais medonha que mulher que não reage, não emite sinal. Não
tem coisa mais legal do que mulher que se entrega praquilo que quer. A
gente embarca feliz.
9- NOJO
Tá, eu sei que tem universos todos de homens que também exibem a mais
bisonha das travas: o nojinho de fazer isso ou aquilo. Mas também tem
muita moça que faz o mesmo. Meninas, meninos: sexo é melado, suado, é
pouca coisa diferente, em termos de cheiros, do que jogar uma pelada ou
participar de uma maratona. Evidentemente, a higiene básica é exigência
básica. Mas tem pouca coisa mais medonha do que o pessoal que exagera,
que esquece que, diabos, sexo é o contato mais próximo, íntimo e cremoso
entre dois corpos. Cheiro faz parte. Nojo não.
10- MEDO
Meninas, essencialmente, o maior medo dos homens é perceber que vocês
não estão com tanto medo do que eles. E a verdade, eu sei, é que você
também estão. Eis a grande ironia das coisas: fingindo rir, fingindo
segurança, aqueles dois corpos pelados ali escondem um mundo todo de
vontades e possibilidades e inseguranças.
Agora, a solução é mole e dura: basta a gente aceitar que sexo pode
ser atrapalhado e pode ser tudo mais: pode ser bom, pode ser ruim,
estranho, perfeito, inesquecível ou bizarro. Porque na vida, meninas,
vejam só que coisa: tem dias que ela, a vida, é boa, mas tem dias que
ela, a vida, é ruim, bizarra, torta, fácil, inesquecível…
+Fale com ele: Qual a frequência sexual ideal? A ciência descobriu e você vai gostar
Enfim, quero dizer que se a gente entrar numa trepada aceitando que
não sabe, aceitando que aquele encontro ali é único, que é uma conversa
meio muda, meio falada, meio suada entre duas pessoas conhecendo e
dividindo aquele momento, isso pode ser a coisa mais divertida do mundo.
Desde que não depositemos no outro os temores que são nossos, desde que
dividamos com o outro aquela história contada ali de cima por suores,
dedos, extremidades, línguas e gemidos, desde que não esqueçamos disso
tudo, se a gente se permite a fazer o que quer, a pedir o que quer, a
ouvir o outro, a embarcar na onda do outro, puxa vida, que coisa torta,
estranha e maravilhosamente sem igual é o sexo.
Não tenham medo de pedir e de fazer aquilo que o outro, dando
abertura, conversando com palavras ou vogais, topa fazer. Façam. Cada
trepada é sempre uma história. Basta querer ouvir e contar e escrever e
repetir e falhar e tentar e mudar.
Sexo é só sexo.