Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 30 de abril de 2011. |
Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página. |
VICIADO
Barker e os 62 quilos de açúcar que os brasileiros consomem por ano. “Sou viciado. Só falta fazer uma carreirinha de açúcar e cheirar”, diz
Barker e os 62 quilos de açúcar que os brasileiros consomem por ano. “Sou viciado. Só falta fazer uma carreirinha de açúcar e cheirar”, diz
A denúncia que ele faz não é nova. Em 1975, o jornalista americano William Dufty (morto em 2002) fez sucesso com o livro Sugar blues: o gosto amargo do açúcar. Dufty defendia a ideia de que o açúcar é uma droga poderosa, viciante e capaz de provocar inúmeros males à saúde. Ele afirmava que a indústria conspirava para manter os americanos viciados no pó branco vendido legalmente. O argumento central do livro é de que uma pequena redução no consumo de açúcar é capaz de fazer qualquer pessoa se sentir melhor fisica e mentalmente. Radical, Dufty chegava a ponto de afirmar que a redução do consumo de açúcar nos manicômios poderia ser um tratamento eficaz para muitos pacientes. O livro vendeu 1,6 milhão de cópias, fez a cabeça de muita gente, mas o consumo de açúcar não caiu. Só aumentou.
Agora é diferente. Ao contrário de Dufty, o endocrinologista Lustig é uma voz respeitada na universidade. Além disso, desde os anos 1970 surgiram evidências científicas capazes de sustentar a tese de que os danos do açúcar vão muito além das gordurinhas a mais. Lustig tem se dedicado a reunir e divulgar evidências contra o açúcar. Tornou-se uma espécie de agitador e rebelde com uma única causa. E converteu-se em referência para todos que pensam como ele.
O principal argumento de Lustig é que a forma como o açúcar é metabolizado pelo organismo o torna muito perigoso. O açúcar de cana, tão popular no Brasil, é tecnicamente chamado de sacarose. Quando digerido, ele se transforma em glicose e frutose. Excesso de glicose é ruim, mas excesso de frutose parece ser muito pior. A frutose derivada do açúcar de cozinha e a frutose ultraconcentrada usada no xarope de milho que adoça os refrigerantes nos Estados Unidos são metabolizadas primeiro (e rapidamente) pelo fígado. Ele passa a trabalhar demais, o que pode levar a um fenômeno chamado de resistência à insulina. Ou seja: o fígado deixa de ser capaz de atuar na redução de glicose no sangue. As consequências para a saúde vão do diabetes tipo 2 à impotência sexual (leia o quadro abaixo).
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