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domingo, 15 de novembro de 2009

Boa noite Cinderela ou conto da Carochinha?

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dom, 15/11/09
por Letícia Sorg |
categoria Uncategorized

- Cuidado com as coisas que colocam na bebida, hein?! Fique de olho no seu copo!
- Tá, tá bom, não se preocupe! Imagine!
- Já viu, dever de pai é avisar…
Acreditem: apesar dos meus 27 anos, tive esse diálogo com meu pai via Skype na semana passada, antes de embarcar para Amsterdam, viagem que foi a boa razão da minha ausência aqui do blog. Conhecida por ser uma cidade ultra-liberal – como comprovam os coffee shops, onde a maconha é permitida, e o Red Light District, onde a prostituição é legalizada -, a capital holandesa parece ter despertado um receio que eu não via em meu pai há um bom tempo. E eu não deixei de achar um tanto divertido ele pensar logo de cara no “boa noite, Cinderela”, golpe em que se adicionam drogas às bebidas com o intuito de roubar ou estuprar a vítima.
Teve uma época em que circulou até uma corrente de e-mails alertando para o perigo de ser dopado em uma festa qualquer e acabar em uma banheira cheia de gelo, sem um rim, mas, de maneira geral, nunca pensei muito nesse risco. Talvez porque as medidas para evitar o perigo são simples: comprar pessoalmente a bebida que for consumir, ficar de olho no copo quando ele não estiver na sua mão e não aceitar ofertas de estranhos. Simples, não?
A bebida, e não as drogas, colocam em risco as mulheresMesmo assim, ainda acontece de pessoas, principalmente mulheres, prestarem queixa de que foram vítimas do “boa noite, Cinderela”. Mas, segundo um estudo publicado recentemente aqui no Reino Unido, a história está mais para conto da Carochinha: os pais devem se preocupar menos com o que pode estar dentro da bebida das filhas e mais com a bebida em si.
De acordo com um acompanhamento feito pelo hospital Wrexham Maelor durante um ano, nenhuma das 75 pessoas que alegaram terem sido dopadas tinha traços de drogas no sangue. Nada de GHB, de quetamina ou de Rohypnol, substâncias usadas no golpe. O que o resultado apontava era uma quantidade exagerada de álcool no sangue dos pacientes, em sua maioria mulheres.
A conclusão do estudo, apresentado em uma reportagem do jornal britânico Daily Mail, é que muitas mulheres recorrem ao “boa noite, Cinderela” como uma desculpa por terem bebido demais e perdido o controle sobre si mesmas. Elas preferem acreditar que uma droga colocada por um estranho, e não os drinques que tomaram, seja responsável pelas loucuras que fizeram ou pela a amnésia que enfrentam.
“Sempre há uma suspeita de que as pessoas vão dizer que foram dopadas quando, talvez, elas tenham errado na avaliação da quantidade de álcool que ingeriram”, diz Peter Saul, um dos médicos que conduziram a pesquisa. “Se você for para casa e seus pais estiverem lá, e você chegar num estado terrível, depois de vir vomitando pelo caminho, você vai ganhar a simpatia deles se disser: ‘colocaram droga na minha bebida’. O mesmo não acontecerá se você disser: ‘bebi demais’”.
Fiz uma pesquisa rápida pelos jornais brasileiros e vi que, também no Brasil, o registro de casos do golpe é relativamente baixo e, ele quando acontece, está mais relacionado ao roubo do que ao estupro. Pode ser, claro, que os números estejam subestimados, já que nem todas as mulheres vão à delegacia dar queixa. Mas resolvi escrever sobre o estudo britânico porque ele desmistifica o assunto e faz um importante alerta sobre os perigos do álcool.
Ao exagerar na quantidade de drinques, muitas mulheres acabam se colocando, involuntariamente, numa posição vulnerável. Com o poder de julgamento prejudicado e os sentidos amortecidos pelo álcool, elas podem virar presas fáceis para estupradores. E a confusão sobre o que de fato aconteceu pode prejudicar a apuração do crime.
Antes eu só ficava triste de ver, pelas ruas, as mocinhas rindo alto e trançando as pernas depois de passar a noite toda no pub. Agora fico preocupada e sei que só elas podem fazer alguma coisa pela própria segurança.

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