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sábado, 7 de maio de 2011

O futuro do terror depois de Bin Laden (trecho)

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Agora sob o comando do egípcio Ayman al-Zawahiri, a rede terrorista Al-Qaeda pode se tornar uma ameaça ainda maior para todo o mundo – inclusive para o Brasil
José Antonio Lima. Com Margarida Telles
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 7 de mario de 2011.

Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página.

A morte de Osama bin Laden tem um imenso valor simbólico. Foi eliminado o responsável por um dos maiores crimes da humanidade na história recente. O efeito prático da ação dos Estados Unidos certamente será muito menor. O presidente americano, Barack Obama, afirmou que o mundo pós-Bin Laden está mais seguro. Antes de chegar a essa conclusão, porém, é preciso responder a duas perguntas: 1) conseguirá a Al-Qaeda sobreviver sem seu maior líder?; 2) até que ponto a ideologia jihadista do terror suicida se sustentará?
Mazhar All Khan
PARCEIROS
Ayman al-Zawahiri ao lado de Bin Laden, no Afeganistão, em 1998. Naquele ano, os dois se juntaram para tornar a Al-Qaeda uma potência do terror
 A resposta mais provável para ambas as perguntas é sim. Ainda em 2001, Bin Laden afirmou que “sua vida ou sua morte não importariam” em nada para a causa da guerra santa, pois “o despertar” já havia ocorrido. O jornalista britânico Jason Burke, autor do livro Al-Qaeda: a verdadeira história do radicalismo islâmico, afirma que o grande sucesso de Bin Laden foi tornar a ideologia do grupo conhecida mundialmente. “De muitas formas, a Al-Qaeda tornou-se um movimento social e fez crescer uma cultura jihadista muito próspera”, disse Burke a ÉPOCA. Os exemplos abundam. Em 2004, Madri, na Espanha, e Bali, na Indonésia, foram atacadas por células terroristas inspiradas pela Al-Qaeda. No ano seguinte, o mesmo ocorreu com Londres. Na terça-feira passada, Hafiz Mohammad Saeed, chefe do grupo paquistanês Lashkar-e-Taiba, responsável pela morte de 308 pessoas em Mumbai, na Índia, em 2008, comandou orações em homenagem a Bin Laden, que ele considera uma “grande pessoa que despertou o mundo muçulmano”. Até onde se sabe, a Al-Qaeda não financia o grupo paquistanês. Mas com certeza o inspira. O ideal do jihadismo disseminado por Bin Laden faz com que nenhum canto do mundo esteja imune aos ataques extremistas – nem mesmo o Brasil.
Além do Paquistão e do Afeganistão, a Al-Qaeda tem bases na península Arábica, no Iraque e no norte da África
A perenidade da Al-Qaeda é resultado do modo como o grupo se estruturou. Além do núcleo no Afeganistão e no Paquistão, há três ramificações oficiais: na Península Arábica, no norte da África (Magrebe) e no Iraque. A principal delas está na Arábia, célula ativada por ordem direta de Bin Laden. “Eles não têm apenas a capacidade de planejar e conduzir ataques contra alvos ocidentais, mas também a permissão do núcleo para operar fora de sua zona de atuação e atacar os Estados Unidos”, afirma Leah Farrall, ex-analista de contraterrorismo da Polícia Federal da Austrália, que investigou os atentados em Bali. No Natal de 2009, o grupo da Península Arábica conseguiu colocar o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab num voo de Amsterdã, na Holanda, para Detroit, nos EUA, armado com uma bomba. O explosivo, preso em sua cueca, falhou quando Umar tentou detoná-lo.
Os outros dois grupos têm, por enquanto, restringido seus ataques a suas áreas de atuação. A Al-Qaeda do Magrebe está sediada na Argélia e atua em países vizinhos, realizando sequestros de estrangeiros. No Iraque, a rede terrorista se instalou logo depois da invasão liderada pelos EUA, em 2003. Naquele ano, fez um ataque à bomba ao complexo das Nações Unidas em Bagdá. Morreram o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello e outras 21 pessoas.
Os três braços da Al-Qaeda levam a crer que o grupo continuará ativo mesmo com a perda de seu líder
Bin Laden não teria se tornado um mito do terror sem a parceria do médico egípcio Ayman Mohammad Rabaie al-Zawahiri, de 59 anos. O número dois da Al-Qaeda e sucessor natural de Bin Laden herdará dele o topo da lista de terroristas mais procurados pelo FBI, a polícia federal americana – a recompensa por sua eventual captura é de US$ 25 milhões, mesmo valor oferecido por Bin Laden. Zawahiri, um fundamentalista desde a juventude, teve enorme influência sobre Bin Laden. Não há registros do primeiro encontro da dupla, no início da década de 1980, na Arábia Saudita ou no Afeganistão. Só depois de conhecer Zawahiri, Bin Laden passou a manifestar contrariedade ao governo saudita ou a outros governos opressivos. Em entrevista a ÉPOCA em agosto, Omar bin Laden, filho de Osama, disse que seu pai “não teria se tornado uma pessoa obsessiva com a guerra” se não tivesse sido rodeado por pessoas como Zawahiri. No livro Sob a sombra do terror, Omar afirma que o egípcio planejava se aproveitar do dinheiro de seu pai. Em 1998, após disputas com outros grupos radicais, ganhou a confiança de Bin Laden e conseguiu unir informalmente as forças da Al-Jihad – a rede criada por ele para tentar instaurar um Estado islâmico em seu Egito natal – com a Al-Qaeda. A absorção definitiva da Al-Jihad se deu em 2001.
O acordo transformou o jihad para sempre. Naquele mesmo ano da união, 1998, a dupla passou a chamar a atenção mundial com os atentados contra as embaixadas dos EUA em Nairóbi, no Quênia, e de Dar-es-Salaam, na Tanzânia. Homens com carros e caminhões-bombas explodiram veículos em frente aos prédios e deixaram 224 mortos e mais de 4 mil feridos. Pela participação nesse ataque, Zawahiri começou a ser procurado pelo FBI. Com Bin Laden, formou uma dupla perfeita. Bin Laden tinha o dinheiro para financiar os ataques e, sobretudo, o carisma para atrair militantes. Zawahiri era o cérebro e a logística. Ele organizou o grupo e redigiu o documento mais famoso da história da Al-Qaeda, a fatwa (ordem religiosa) determinando que era dever de cada muçulmano “matar os americanos e seus aliados – civis e militares – em qualquer país onde seja possível”. O pretexto para isso era a presença de tropas americanas na terra santa da Arábia Saudita depois da Guerra do Golfo, a morte de 1 milhão de civis no Iraque naquele conflito e o apoio a Israel. Reunindo o carisma de Bin Laden às ideias de Zawahiri, a Al-Qaeda globalizou o terror.
Sob a perspectiva da organização que criaram, qualquer lugar pode ser interessante para os negócios dos terroristas. Em 1995, a Tríplice Fronteira (região entre Brasil, Argentina e Paraguai) recebeu a visita de Khalid Sheikh Mohammed, o homem que deu a ideia de usar aviões como mísseis para executar o 11 de setembro. Hoje preso em Guantánamo, ele esteve em Foz do Iguaçu por três semanas, visitando a comunidade árabe da região em busca de doações a grupos extremistas. Em 2008, ÉPOCA conversou com três de nove muçulmanos radicados aqui e no Paraguai que eram acusados pelo governo americano de financiar radicais islâmicos. Todos diziam ser inocentes. O discurso do governo brasileiro é negar a existência de uma rede de apoio e financiamento ilegal de grupos extremistas. Mas a Polícia Federal continua investigando suspeitos. Um deles, o libanês Khaled Hussein Ali, que cuidava de um site simpático a organizações terroristas, chegou a ser preso por 20 dias em 2009. O advogado dele, Merhy Daychoum, afirma que seu cliente é inocente e que a Al-Qaeda não precisaria de dinheiro daqui para se sustentar (leia a entrevista).

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