07:00, 6/09/2012 Nathalia Ziemkiewiczcasamento, cinema, comportamento, cultura, erotismo, humor, livro, orelha intrometida, orgasmo, relacionamento, sexo Tags: desejo perdido, esther perel, falta de tesão, marido e mulher, meryl streep, sexo no cativeiro, steve carrell, tédio, terapeuta sexual, tomy lee jones, um divã para dois, vida doméstica
“Fogo precisa de ar”. Ouvi essa frase em 2009, durante uma entrevista com a terapeuta sexual Esther Perel. Nunca mais esqueci. Ela afirma que intimidade não garante sexo de qualidade. E que desejo precisa de espaço, um certo distanciamento. Algo difícil de praticar na vida doméstica, com o excesso de convivência entre marido e mulher. No livro “Sexo no Cativeiro” (Editora Objetiva), leitura muito útil para quem quer entender como a relação esfriou, Esther compara casamento a confinamento. Mostra como a proximidade aumenta a parceria do casal, mas pode apagar o tesão. Por um lado, queremos a segurança e a estabilidade. Por outro, queremos mistério e imprevisibilidade.
Lembrei das palavras de Esther na sexta-feira passada, enquanto assistia “Um divã para dois” na companhia de um balde de pipoca. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) são casados há 31 anos e dividem apenas um teto. O resto foi se perdendo ao longo do tempo e de uma rotina mecânica – dois ovos com bacon frito todas as manhãs. Não há troca entre o casal, nem conversa e demonstração de amor. Eles dormem em quartos separados e não fazem sexo há cinco anos, desde que os filhos saíram de casa. Então Kay cansa de arrastar sua infelicidade e gasta as economias numa terapia intensiva para casais com o Dr. Bernard Feld (Steve Carrell). Ela quer resgatar o desejo perdido. O ranzinza Arnold, acomodado ao tédio do casamento, reluta mas acaba cedendo à ideia.
Desconfortáveis no divã, enquanto tentam entender como chegaram à triste condição, os dois se reencontram. Kay quer ser tocada, em todos os sentidos. Beijar na boca e andar de mãos dadas. Ela não se masturba porque dói lembrar o prazer que não tem mais. Arnold argumenta que desistiu depois de repetidas recusas da esposa, sempre mais preocupada com o jantar dos filhos ou com a louça suja. A resistência de Arnold à mudança e a inocência sexual de Kay são ao mesmo tempo cômicas e dramáticas. Ela quer renovar os votos matrimoniais, ele pensa num ménage a trois com a vizinha. O terapeuta descobre que o sexo deles era um eterno “papai-mamãe”, sem direito a oral ou fantasias. “Era ok”, resume Kay. E porque era só isso, foi deixando de fazer falta. Durante as sessões, Dr. Feld passa exercícios ao casal, como dormir abraçados ou tocar sensualmente o corpo do outro.
Não conto mais, querido leitor, para não estragar a delícia que é o filme. Mas a ausência de desejo sexual não é azar dos personagens sexagenários. Como diz Esther Perel, “se no passado tínhamos vergonha porque fazíamos sexo, agora temos vergonha quando não fazemos.” Conheço muitos jovens casais que sofrem com o marasmo de seus lençóis king size, namorados com vinte ou trinta e poucos anos frustrados (ou, pior, resignados) por transar uma ou duas vezes por mês. Algumas amigas comentam: “não lembro a última vez em que transamos” ou “amo muito, mas acabou o tesão”. Os parceiros rebatem: “ela sempre tem uma desculpa quando a procuro” ou “queria que ela tivesse mais iniciativa e não parecesse uma boneca inflável”.
São desejos desencontrados, expectativas depositadas no outro, falta de diálogo, acomodação. Das semanas de prazer adiado, nascem as brigas infantis e as abordagens desajeitadas. Você desaprendeu a seduzir e tudo parece como forçar a barra. Ou tem vergonha de mostrar quando quer e prefere esperar que o outro perceba. É um paradoxo desgraçado: o casal fica distante porque está perto demais. Alguns especialistas sugerem que a gente marque o sexo na agenda, assim como uma consulta no dentista ou uma reunião de trabalho. Bem na linha do “faz cinco dias que não transamos, o que posso fazer com isso?”. Falta espontaneidade, você vai dizer. Mas encarar o sexo como uma tarefa que também precisa de atenção, esforço e criatividade pode ajudar muito. Ao encontrar uma anotação dessas no calendário da agenda ou do celular, basta vestir uma lingerie mais sexy ou comprar um vinho a caminho de casa. Não precisa abrir a porta e as pernas / o zíper, feito robô. Dá para reinventar a vida sexual nas sutilezas.
Lembrei das palavras de Esther na sexta-feira passada, enquanto assistia “Um divã para dois” na companhia de um balde de pipoca. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) são casados há 31 anos e dividem apenas um teto. O resto foi se perdendo ao longo do tempo e de uma rotina mecânica – dois ovos com bacon frito todas as manhãs. Não há troca entre o casal, nem conversa e demonstração de amor. Eles dormem em quartos separados e não fazem sexo há cinco anos, desde que os filhos saíram de casa. Então Kay cansa de arrastar sua infelicidade e gasta as economias numa terapia intensiva para casais com o Dr. Bernard Feld (Steve Carrell). Ela quer resgatar o desejo perdido. O ranzinza Arnold, acomodado ao tédio do casamento, reluta mas acaba cedendo à ideia.
Desconfortáveis no divã, enquanto tentam entender como chegaram à triste condição, os dois se reencontram. Kay quer ser tocada, em todos os sentidos. Beijar na boca e andar de mãos dadas. Ela não se masturba porque dói lembrar o prazer que não tem mais. Arnold argumenta que desistiu depois de repetidas recusas da esposa, sempre mais preocupada com o jantar dos filhos ou com a louça suja. A resistência de Arnold à mudança e a inocência sexual de Kay são ao mesmo tempo cômicas e dramáticas. Ela quer renovar os votos matrimoniais, ele pensa num ménage a trois com a vizinha. O terapeuta descobre que o sexo deles era um eterno “papai-mamãe”, sem direito a oral ou fantasias. “Era ok”, resume Kay. E porque era só isso, foi deixando de fazer falta. Durante as sessões, Dr. Feld passa exercícios ao casal, como dormir abraçados ou tocar sensualmente o corpo do outro.
Não conto mais, querido leitor, para não estragar a delícia que é o filme. Mas a ausência de desejo sexual não é azar dos personagens sexagenários. Como diz Esther Perel, “se no passado tínhamos vergonha porque fazíamos sexo, agora temos vergonha quando não fazemos.” Conheço muitos jovens casais que sofrem com o marasmo de seus lençóis king size, namorados com vinte ou trinta e poucos anos frustrados (ou, pior, resignados) por transar uma ou duas vezes por mês. Algumas amigas comentam: “não lembro a última vez em que transamos” ou “amo muito, mas acabou o tesão”. Os parceiros rebatem: “ela sempre tem uma desculpa quando a procuro” ou “queria que ela tivesse mais iniciativa e não parecesse uma boneca inflável”.
São desejos desencontrados, expectativas depositadas no outro, falta de diálogo, acomodação. Das semanas de prazer adiado, nascem as brigas infantis e as abordagens desajeitadas. Você desaprendeu a seduzir e tudo parece como forçar a barra. Ou tem vergonha de mostrar quando quer e prefere esperar que o outro perceba. É um paradoxo desgraçado: o casal fica distante porque está perto demais. Alguns especialistas sugerem que a gente marque o sexo na agenda, assim como uma consulta no dentista ou uma reunião de trabalho. Bem na linha do “faz cinco dias que não transamos, o que posso fazer com isso?”. Falta espontaneidade, você vai dizer. Mas encarar o sexo como uma tarefa que também precisa de atenção, esforço e criatividade pode ajudar muito. Ao encontrar uma anotação dessas no calendário da agenda ou do celular, basta vestir uma lingerie mais sexy ou comprar um vinho a caminho de casa. Não precisa abrir a porta e as pernas / o zíper, feito robô. Dá para reinventar a vida sexual nas sutilezas.
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