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domingo, 26 de abril de 2015

O professor adota uma postura e a direção outra. Como resolver?

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Foto: Shutterstock
Quase todos os dias, os professores se veem diante de situações ou conflitos que exigem uma intervenção. Muitas vezes, a equipe gestora, por pressão das famílias dos alunos ou por discordar da postura dos docentes, acaba agindo em direção contrária e invalidando as decisões que foram tomadas em sala de aula. Mesmo que seja uma decisão correta, essa postura descoordenada pode fragilizar a relação de confiança estabelecida entre a direção e os educadores. Resgatar essa confiança o mais rápido possível, evita que o clima e a qualidade do trabalho sejam comprometidos.
Para fazer isso, precisamos pensar sobre algumas possíveis causas do desencontro de ideias e de ações. Uma delas é o distanciamento entre os dois grupos. Sabemos que a dinâmica intensa da escola pode dificultar a comunicação entre os segmentos, o que, invariavelmente, provoca os chamados “ruídos” nas interlocuções. Eles, por sua vez, podem gerar mal-estar a uma das partes por conta dos sentimentos de incompreensão e solidão. É interessante perceber que tal distanciamento, não raro, está disfarçado pelo cumprimento de prazos, entrega de relatórios, fichas e diários. Ou seja, o fato de o professor entregar todos os documentos pertinentes à função, não garante que está havendo uma comunicação entre a equipe. As tarefas burocráticas e administrativas, inerentes à docência, não substituem o diálogo aberto e transparente, até porque, na maioria das vezes, o que se entrega são os resultados ou produtos do trabalho desenvolvido em determinado intervalo de tempo. Mas, normalmente, os temas mais polêmicos e geradores dos “ruídos na comunicação” fazem parte do processo, isto é, estão relacionados aos meios utilizados e às dificuldades e soluções encontradas para se alcançar os resultados.
Ao buscar respostas a questões que se relacionam ao processo, as famílias, normalmente, recorrem à direção ou à orientação. Portanto, se não há o exercício sistemático de parceria no trabalho educativo, provavelmente, o rumo do atendimento aos pais será descoordenado, podendo desqualificar a atuação do professor. Para acabar com o distanciamento, então, a primeira providência é priorizar encontros sistemáticos com os educadores para a discussão de temas, rotinas, desafios e dúvidas presentes no cotidiano das salas de aulas. Mas como? Cabe à orientação organizar encontros pedagógicos nos quais avalie junto com cada professor os acontecimentos dos últimos dias e discuta os encaminhamentos mais adequados e viáveis. As reuniões podem ter cerca de 30 minutos e ser realizadas a cada 15 dias. Mas, claro, se houver algum episódio durante o intervalo das reuniões que demande mais atenção, o professor deve antecipar a conversa – em um primeiro momento, o fato e os encaminhamentos podem ser relatados apenas à orientação e/ou à direção e depois serem retomados conjuntamente para que possa haver uma reflexão mais profunda sobre o ocorrido.
Mas e quando há discordância entre o que o professor faz e o que a gestão acredita que deveria ser feito? A discordância de ideias deve ser percebida como uma rica oportunidade de reflexão. Em momentos como esses podem ser ativadas operações mentais que permitem uma visão mais ampliada e imparcial dos fatos, como comparar, coordenar diferentes perspectivas – bem como suas consequências para todos os envolvidos – e relacionar as diversas variáveis. Além disso, a qualidade argumentativa para justificar ou defender uma ideia/ação precisa ter como base os princípios norteadores do trabalho. Nesse sentido, no ambiente educacional não cabem decisões movidas por achismos e crenças, tanto por parte dos professores quanto pela equipe gestora.
Com frequência, ouço dos educadores queixas legítimas de arbitrariedades cometidas pela direção na busca por respostas rápidas às angústias dos pais – postura de quem é refém das aprovações sociais. Mas uma atitude não pode ser invalidada apenas em nome do descontentamento da família; é preciso um debate acerca do que está em jogo. O professor precisa justificar teoricamente suas ações e/ou necessidades, da mesma forma que os gestores devem analisar essa justificativa de acordo com os objetivos traçados, validando os princípios e, quando necessário, sugerindo alternativas. Caso contrário, teremos uma relação hierarquizada, orientada por um modelo ultrapassado que não considera o elemento mais importante de uma gestão democrática: o trabalho coletivo. O compromisso com uma Educação de qualidade, voltada para a prática da cidadania, demanda transparência dos sentimentos envolvidos, assertividade na defesa dos princípios e conhecimento sobre o desenvolvimento de relações construtivas (com as pessoas e com o processo de aprendizagem). O que precisa ser preservado é o respeito entre as pessoas. Discordar não é desrespeitar, caso os argumentos utilizados sejam sustentados por coerência e fundamentação. Sendo assim, carecemos do exercício sistemático de argumentar e contra-argumentar. Isso, certamente, nos possibilita o desenvolvimento do que pretendemos para nossos alunos: autonomia moral e cognitiva.
E você, já se sentiu desautorizado por alguém da equipe? Como lidou com a situação? Sua experiência é sempre bem-vinda!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi
 

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