As notícias mais recentes sobre a distribuição de riqueza no mundo lembram exatamente a situação do século XIX, denunciada pelos revolucionários da época e, entre eles, Karl Marx. Todas as estatísticas mostram: vai haver mais gente passando fome o ano que vem do que este ano ou no passado recente ou no passado distante. Isto, não pelo aumento populacional, mas, proporcionalmente!
Assim, chegamos ao lugar de onde imaginamos que partimos, quando começou a revolução industrial, as revoluções burguesas, o pensamento liberal, o pensamento socialista e tudo o mais que, enfim, nada tinha da situação pós-moderna, esta situação aparentemente sofisticada, menos caricaturesca que aquela pintada pela disputa tosca entre “capitalismo e socialismo”.
Não há como cada um dar um tapa na história e resolver isso – os problemas da pobreza. Vingadores como Lênin e Trotsky se mostraram tão pouco poderosos quanto suas imitações, os super-heróis que emergiram com Stan Lee, nos anos 60. Diferentemente do Super Homem velho, os heróis de Lee, nos anos 60 e 70, adquiriram a capacidade de se mostrarem incapazes. Tornaram-se muito mais musculosos e, no entanto, completamente humanos. Alguns até chegaram a morrer! Lênin e Trotsky também morreram! Até Stalin, que toda a URSS acreditava que não morreria jamais, morreu. E depois morreu a própria URSS. Tudo que é bem sólido, mas sólido mesmo, desmancha no ar!
Então, aceitando nossa vida miúda e, no entanto, achando que ainda é possível “fazer alguma coisa boa”, cada um de nós, que foi ou não sonhador no passado, continua trabalhando no seu canto. Entramos pela idéia de que não vamos fazer “coisa grande” na história, mas, enfim, vamos fazer algo enorme se fizermos o pequeno que está ao nosso alcance.
A Internet apareceu como um elemento que é enorme, mas que proporciona aos antigos sonhadores o direito de fazer o pequeno, mas bom, no cotidiano. Eis, então, que a EAD surge como o “tudo de bom” para os neo-revolucionários sem revolução. E antes que me crucifiquem, dizendo que sou contra EAD, já me declaro: sou um desses “neo”. Todavia, após 35 anos filosofando e, em boa parte, sendo professor, há alguma coisa que aprendi que outros, que estão nesse projeto de fazer EAD por toda parte, estão desconsiderando. Um elemento importante, que não está sendo levado em conta, é o seguinte: não é a EAD que vai estragar a universidade, caso os cursos de graduação passem a ser virtuais, seja lá se por 50% ou 20% ou 100%, o que vai ocorrer é o contrário, é a EAD que vai ser prejudicada pela universidade, estatal ou particular.
A universidade brasileira possui uma legislação pesada. Assim é por vários motivos. Um deles: nos anos 70, pela mão da Ditadura Militar, o “ensino superior fajuto”, “vago”, de “venda de diplomas” etc. cresceu muito. Então, depois, passou-se a desconfiar demais de todo tipo de escola que não cobrasse a “presença” do aluno de modo bem rígido. A legislação sobre as universidades se ampliou muito mais que em outros países, quase que como uma relação natural contra a fraude – uma praxe típica do Brasil. Por essa razão e por outras, a universidade brasileira é burocraticamente difícil, ela não acompanha mudanças tecnológicas no ensino, mesmo as mudanças que ela, em seus laboratórios, ajudou a criar ou desenvolver. A EAD é isso: é algo que a universidade pode ajudar a desenvolver, mas não é algo que possa vingar no próprio ensino universitário, como mecanismo capaz de colocar os estudantes em casa, e não mais no campus. Não se altera grade curricular, função de professor e, enfim, conteúdos e sua relação com a didática na mesma velocidade e necessidade posta pela EAD, caso a EAD seja EAD.
A EAD caminha rápido. Ela vai de acordo com a velocidade da tecnologia. A universidade, na parte da estrutura da montagem da legalidade de seus cursos, caminha devagar. Na parte de aparelhamento, nem caminha. Em parte, tem de ser assim. A Universidade, mesmo agora que é só “ensino superior”, ainda é uma instituição com um pé na sua origem, os tempos medievais. Além disso, do ponto de vista antropológico, nós, os bípedes sem penas, não inventamos ainda outra coisa que não a “vivência universitária presencial” como mecanismo de socialização dos jovens e de aprendizado efetivo. Inventamos, sim, apoios fantásticos a isso. Em outras palavras: se tenho uma sala de aula e um restaurante universitário, se tenho o professor junto do aluno e biblioteca com livros impressos, tudo isso é potencializado ao infinito se há, então, a Internet para ampliar esses serviços. Mas, se abandono tudo isso e coloco os jovens isolados, em suas casas, e uso da Internet para educá-los, sei que não vou educar ninguém, sei que vou criar uma geração de imbecis. Dependendo do tipo de instrução, eles serão bem treinados. Conforme o tipo de educação, eles não serão educados.
Qualquer bom professor sabe disso. Mas, o problema, é que já temos no contexto dos “neo”, os que não são bons professores. Eles próprios fizeram “faculdades de esquina”, daquelas geradas exatamente pelo mecanismo de “fajutização do ensino superior” gerado na Ditadura Militar, e acreditam que “é o aluno que faz o ensino, não a faculdade que faz o aluno” – velho lema de quem não admitia que tínhamos condição de oferecer ensino estatal para todos. Esse pessoal, por razões óbvias, acredita que é possível substituir a graduação normal por graduação em forma de EAD. Eles estão errados. Pressentem isso. Mas, por não terem, de fato, passado pela disciplina da “vivência universitária” ou, então, por terem se saído mal nisso, querem agora acabar com o ensino presencial. Querem “democratizar” o ensino. Querem ver todo mundo na universidade, agora, em forma de EAD – desde que não sejam seus filhos. Quando encontram gente de dentro da USP que também quer isso, se sentem abençoados. Mas, o problema é que há professor da USP que não foi nem aluno da USP, não passou no vestibular da FUVEST. E há os que, mesmo na USP, gostam mesmo é de dinheiro e cargo, e vão pegar isso se aparecer a boca, com a modalidade EAD.
A idéia básica, em termos de retórica social desse pessoal, é a mesma de sempre. Trata-se de aceitar que o mundo tenha, hoje, de gerar mais e mais gente passando fome. Tornou-se um fato natural como um tipo de furacão. Pode-se prevê-lo, mas não eliminá-lo. É a idéia daquele pessoal que diz: “ora, mas veja, há o pobre que mora distante, que nunca vai poder estudar na USP, e que agora, por EAD, ele será um aluno USP”. Bobagem, ele será um aluno de segunda categoria – sabemos disso. Além disso, agora, com a expansão que tivemos no ensino superior estatal, é até ridículo, falar com ose fala em EAD. Neste mesmo momento em que até a cidade de Picos, no interior do Piauí, tem duas universidades públicas, fazer tudo virar EAD é um sinal de estupidez. Além disso, qual é a distância definida no Ensino a Distância? Não há definição!
O governo gastou para colocar a universidade em Picos, duas por falta de uma, em um lugar que tem apagão e, portanto, não tem boa Internet, e então, logo em seguida, se instaura ali uma EAD para a população! Em vez de andar duas quadras, fica-se em casa! Que bom que é a EAD, ela faz chegar a universidade pública para todos. Isso é política educacional de gente sadia mentalmente? Ou isso é uma forma, declarada, de fazer com que todo mundo tenha diploma de escola estatal, sem aprender nada?
Assim, a máquina compressora desses novos “neo”, que não são os “neo” do meu time, se impõe. Para eles, a utopia se transformou nisso: fazer o pobre virar aluno de EAD. Alguns já aproveitaram o bonde e estão chamando isso de “inclusão social ampliada”.
Para mim, a utopia é outra, ainda insisto que todo mundo deve e pode comer bem, que não deveria haver fome no mundo, e que todos os jovens, principalmente no Brasil, tem sim condições de poder freqüentar, por quatro anos, o campus universitário estatal.
Como que um país que paga 12 mil reais para o mordomo do Sarney não pode dar ensino de quatro anos para sua juventude, ensino com vivência mesmo, com participação política, com discussão olho-no-olho? Como? Não! Essa utopia amesquinhada dos que em vez de usar a EAD como apoio estão querendo nos fazer escravos de uma sociedade com universidades vazias, tendo feito tudo virar EAD, não é a minha. O pessoal desse time, não é o pessoal do meu time.
Apesar de termos mostrado que nosso país tem dinheiro, que podemos até passar para o lado dos credores no FMI, há quem apele para idéia de que falta dinheiro para colocar todos os jovens na Universidade, por quatro anos, presencialmente. Essa gente não sabe o que é pedagogia. Essa gente fez da sigla EAD o que elas tem como lema: Estamos Ainda Dormindo. Não vão acordar nunca?
Alguns, entre estes, estão acordados, sim – e muito. Mas, neste caso, são os desonestos, os que vendem a EAD ou ocupam cargos de chefia neste novo sistema, que vai gerar nova burocracia nas estatais. O mais esquisito é ver gente do governo nessa defesa da EAD como forma de democratização do ensino – gente do PT! Pois o PT, de fato, fez certa expansão do ensino superior estatal. E há uma ampliação da renda no Brasil. Qual a razão, então, de gente do governo esquecer isso, que seria seu trunfo, para dizer, agora, que não temos dinheiro para dar ensino estatal presencial para todos? Aí, a questão que os move não é o gosto pela incoerência. É que essa gente pode estar, também, se beneficiando com essa mania de fazer cada universidade ter um “pólo de EAD”. Em geral, são pólos caríssimos, e fazem um serviço bem pior do que eu faço aqui, com meu PC, gratuitamente.
Sou um pioneiro em EAD. Sei do que estou falando quando o assunto é EAD via NET. Fui o primeiro a dar curso de filosofia pela Internet, oficialmente, pela UnB. EAD e universidade pública só combinam se tal mecanismo for bem simples e, assim, algo utilizado pelas vias normais de apoio ao ensino regular, e não for um modo de impedir que tenhamos os jovens, todos eles, dentro campus.
Tirar o jovem do campus universitário não é um modo de democratização do ensino, é roubar a cidadania dos filhos do que nunca tiveram cidadania. Podemos fazer a Internet um grande campo de ensino mútuo? Sim, ela já é isso. Mas, não temos de dar diploma para todo freqüentador de Internet por horas que ele venha a estar navegando. Criar uma grande universidade para todos, como a Internet já é, é uma utopia que se realizou, não precisamos, agora, achar que essa utopia realizada precisa de diploma para todos, para existir. Não precisamos encapsular a Internet por meio da universidade. Ela é boa exatamente porque não é um lugar de ensino formal.
Assim, chegamos ao lugar de onde imaginamos que partimos, quando começou a revolução industrial, as revoluções burguesas, o pensamento liberal, o pensamento socialista e tudo o mais que, enfim, nada tinha da situação pós-moderna, esta situação aparentemente sofisticada, menos caricaturesca que aquela pintada pela disputa tosca entre “capitalismo e socialismo”.
Não há como cada um dar um tapa na história e resolver isso – os problemas da pobreza. Vingadores como Lênin e Trotsky se mostraram tão pouco poderosos quanto suas imitações, os super-heróis que emergiram com Stan Lee, nos anos 60. Diferentemente do Super Homem velho, os heróis de Lee, nos anos 60 e 70, adquiriram a capacidade de se mostrarem incapazes. Tornaram-se muito mais musculosos e, no entanto, completamente humanos. Alguns até chegaram a morrer! Lênin e Trotsky também morreram! Até Stalin, que toda a URSS acreditava que não morreria jamais, morreu. E depois morreu a própria URSS. Tudo que é bem sólido, mas sólido mesmo, desmancha no ar!
Então, aceitando nossa vida miúda e, no entanto, achando que ainda é possível “fazer alguma coisa boa”, cada um de nós, que foi ou não sonhador no passado, continua trabalhando no seu canto. Entramos pela idéia de que não vamos fazer “coisa grande” na história, mas, enfim, vamos fazer algo enorme se fizermos o pequeno que está ao nosso alcance.
A Internet apareceu como um elemento que é enorme, mas que proporciona aos antigos sonhadores o direito de fazer o pequeno, mas bom, no cotidiano. Eis, então, que a EAD surge como o “tudo de bom” para os neo-revolucionários sem revolução. E antes que me crucifiquem, dizendo que sou contra EAD, já me declaro: sou um desses “neo”. Todavia, após 35 anos filosofando e, em boa parte, sendo professor, há alguma coisa que aprendi que outros, que estão nesse projeto de fazer EAD por toda parte, estão desconsiderando. Um elemento importante, que não está sendo levado em conta, é o seguinte: não é a EAD que vai estragar a universidade, caso os cursos de graduação passem a ser virtuais, seja lá se por 50% ou 20% ou 100%, o que vai ocorrer é o contrário, é a EAD que vai ser prejudicada pela universidade, estatal ou particular.
A universidade brasileira possui uma legislação pesada. Assim é por vários motivos. Um deles: nos anos 70, pela mão da Ditadura Militar, o “ensino superior fajuto”, “vago”, de “venda de diplomas” etc. cresceu muito. Então, depois, passou-se a desconfiar demais de todo tipo de escola que não cobrasse a “presença” do aluno de modo bem rígido. A legislação sobre as universidades se ampliou muito mais que em outros países, quase que como uma relação natural contra a fraude – uma praxe típica do Brasil. Por essa razão e por outras, a universidade brasileira é burocraticamente difícil, ela não acompanha mudanças tecnológicas no ensino, mesmo as mudanças que ela, em seus laboratórios, ajudou a criar ou desenvolver. A EAD é isso: é algo que a universidade pode ajudar a desenvolver, mas não é algo que possa vingar no próprio ensino universitário, como mecanismo capaz de colocar os estudantes em casa, e não mais no campus. Não se altera grade curricular, função de professor e, enfim, conteúdos e sua relação com a didática na mesma velocidade e necessidade posta pela EAD, caso a EAD seja EAD.
A EAD caminha rápido. Ela vai de acordo com a velocidade da tecnologia. A universidade, na parte da estrutura da montagem da legalidade de seus cursos, caminha devagar. Na parte de aparelhamento, nem caminha. Em parte, tem de ser assim. A Universidade, mesmo agora que é só “ensino superior”, ainda é uma instituição com um pé na sua origem, os tempos medievais. Além disso, do ponto de vista antropológico, nós, os bípedes sem penas, não inventamos ainda outra coisa que não a “vivência universitária presencial” como mecanismo de socialização dos jovens e de aprendizado efetivo. Inventamos, sim, apoios fantásticos a isso. Em outras palavras: se tenho uma sala de aula e um restaurante universitário, se tenho o professor junto do aluno e biblioteca com livros impressos, tudo isso é potencializado ao infinito se há, então, a Internet para ampliar esses serviços. Mas, se abandono tudo isso e coloco os jovens isolados, em suas casas, e uso da Internet para educá-los, sei que não vou educar ninguém, sei que vou criar uma geração de imbecis. Dependendo do tipo de instrução, eles serão bem treinados. Conforme o tipo de educação, eles não serão educados.
Qualquer bom professor sabe disso. Mas, o problema, é que já temos no contexto dos “neo”, os que não são bons professores. Eles próprios fizeram “faculdades de esquina”, daquelas geradas exatamente pelo mecanismo de “fajutização do ensino superior” gerado na Ditadura Militar, e acreditam que “é o aluno que faz o ensino, não a faculdade que faz o aluno” – velho lema de quem não admitia que tínhamos condição de oferecer ensino estatal para todos. Esse pessoal, por razões óbvias, acredita que é possível substituir a graduação normal por graduação em forma de EAD. Eles estão errados. Pressentem isso. Mas, por não terem, de fato, passado pela disciplina da “vivência universitária” ou, então, por terem se saído mal nisso, querem agora acabar com o ensino presencial. Querem “democratizar” o ensino. Querem ver todo mundo na universidade, agora, em forma de EAD – desde que não sejam seus filhos. Quando encontram gente de dentro da USP que também quer isso, se sentem abençoados. Mas, o problema é que há professor da USP que não foi nem aluno da USP, não passou no vestibular da FUVEST. E há os que, mesmo na USP, gostam mesmo é de dinheiro e cargo, e vão pegar isso se aparecer a boca, com a modalidade EAD.
A idéia básica, em termos de retórica social desse pessoal, é a mesma de sempre. Trata-se de aceitar que o mundo tenha, hoje, de gerar mais e mais gente passando fome. Tornou-se um fato natural como um tipo de furacão. Pode-se prevê-lo, mas não eliminá-lo. É a idéia daquele pessoal que diz: “ora, mas veja, há o pobre que mora distante, que nunca vai poder estudar na USP, e que agora, por EAD, ele será um aluno USP”. Bobagem, ele será um aluno de segunda categoria – sabemos disso. Além disso, agora, com a expansão que tivemos no ensino superior estatal, é até ridículo, falar com ose fala em EAD. Neste mesmo momento em que até a cidade de Picos, no interior do Piauí, tem duas universidades públicas, fazer tudo virar EAD é um sinal de estupidez. Além disso, qual é a distância definida no Ensino a Distância? Não há definição!
O governo gastou para colocar a universidade em Picos, duas por falta de uma, em um lugar que tem apagão e, portanto, não tem boa Internet, e então, logo em seguida, se instaura ali uma EAD para a população! Em vez de andar duas quadras, fica-se em casa! Que bom que é a EAD, ela faz chegar a universidade pública para todos. Isso é política educacional de gente sadia mentalmente? Ou isso é uma forma, declarada, de fazer com que todo mundo tenha diploma de escola estatal, sem aprender nada?
Assim, a máquina compressora desses novos “neo”, que não são os “neo” do meu time, se impõe. Para eles, a utopia se transformou nisso: fazer o pobre virar aluno de EAD. Alguns já aproveitaram o bonde e estão chamando isso de “inclusão social ampliada”.
Para mim, a utopia é outra, ainda insisto que todo mundo deve e pode comer bem, que não deveria haver fome no mundo, e que todos os jovens, principalmente no Brasil, tem sim condições de poder freqüentar, por quatro anos, o campus universitário estatal.
Como que um país que paga 12 mil reais para o mordomo do Sarney não pode dar ensino de quatro anos para sua juventude, ensino com vivência mesmo, com participação política, com discussão olho-no-olho? Como? Não! Essa utopia amesquinhada dos que em vez de usar a EAD como apoio estão querendo nos fazer escravos de uma sociedade com universidades vazias, tendo feito tudo virar EAD, não é a minha. O pessoal desse time, não é o pessoal do meu time.
Apesar de termos mostrado que nosso país tem dinheiro, que podemos até passar para o lado dos credores no FMI, há quem apele para idéia de que falta dinheiro para colocar todos os jovens na Universidade, por quatro anos, presencialmente. Essa gente não sabe o que é pedagogia. Essa gente fez da sigla EAD o que elas tem como lema: Estamos Ainda Dormindo. Não vão acordar nunca?
Alguns, entre estes, estão acordados, sim – e muito. Mas, neste caso, são os desonestos, os que vendem a EAD ou ocupam cargos de chefia neste novo sistema, que vai gerar nova burocracia nas estatais. O mais esquisito é ver gente do governo nessa defesa da EAD como forma de democratização do ensino – gente do PT! Pois o PT, de fato, fez certa expansão do ensino superior estatal. E há uma ampliação da renda no Brasil. Qual a razão, então, de gente do governo esquecer isso, que seria seu trunfo, para dizer, agora, que não temos dinheiro para dar ensino estatal presencial para todos? Aí, a questão que os move não é o gosto pela incoerência. É que essa gente pode estar, também, se beneficiando com essa mania de fazer cada universidade ter um “pólo de EAD”. Em geral, são pólos caríssimos, e fazem um serviço bem pior do que eu faço aqui, com meu PC, gratuitamente.
Sou um pioneiro em EAD. Sei do que estou falando quando o assunto é EAD via NET. Fui o primeiro a dar curso de filosofia pela Internet, oficialmente, pela UnB. EAD e universidade pública só combinam se tal mecanismo for bem simples e, assim, algo utilizado pelas vias normais de apoio ao ensino regular, e não for um modo de impedir que tenhamos os jovens, todos eles, dentro campus.
Tirar o jovem do campus universitário não é um modo de democratização do ensino, é roubar a cidadania dos filhos do que nunca tiveram cidadania. Podemos fazer a Internet um grande campo de ensino mútuo? Sim, ela já é isso. Mas, não temos de dar diploma para todo freqüentador de Internet por horas que ele venha a estar navegando. Criar uma grande universidade para todos, como a Internet já é, é uma utopia que se realizou, não precisamos, agora, achar que essa utopia realizada precisa de diploma para todos, para existir. Não precisamos encapsular a Internet por meio da universidade. Ela é boa exatamente porque não é um lugar de ensino formal.
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo
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