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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Você sabe distinguir o sonho da realidade? A Origem

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Saí um pouco atordoada do cinema. Estava louca por um descanso, uma soneca. A Origem (Inception, que estreia dia 6) é daqueles filmes de ação tensos, com trama complicada e aberto a várias interpretações – quanto mais você presta atenção e esmiuça o enredo, a mais conclusões você chega; por vezes contraditórias. Faz doer a cabeça e dá vontade de ver de novo.

Cobb (Di Caprio) entra na mente das pessoas e rouba seus segredos mais valiosos
Muito se disse pela crítica estrangeira sobre as semelhanças entre A Origem e Matrix. Há semelhanças, sim, principalmente porque os dois filmes tratam da percepção da realidade (o que é real? o que é virtual? e, agora, o que é sonho?). Mas, sobretudo, há diferenças. A relação entre real/virtual de Matrix é mais profunda, e muito mais dependente. Um é o outro, e vice-versa, mas o outro vive às custas do um. No real, tudo é belo. No virtual, tudo são trevas. Os debates sobre internet e vida real e entre os teóricos de Comunicação ganharam outro status depois de Matrix. Por outro lado, durante o sono de A Origem, essa relação real/virtual é completamente instável, com perigo de tremores de terra dependendo da condição física e ambiental de quem sonha. Difícil? Tô falando…
O filme dirigido e escrito por Christopher Nolan (Amnésia e O Cavaleiro das Trevas) discute – dentro de uma lógica própria – o que é sonho e o que é realidade; quando sabemos que  a experiência é sonho, e quando o confundimos com a vida insone. Nolan, que começou a pensar no roteiro há 10 anos acha “um paradoxo interessante que tudo dentro de um sonho – sejam as coisas assustadoras, felizes ou fantásticas – seja produzido por nossa mente à medida que vai acontecendo. (..) Há também um contraste enorme no mundo dos sonhos; eles são muito íntimos e têm possibilidades infinitas”. Dito isso: quem se lembra de como um sonho começou? Quem nunca pensou ter sonhado algo que realmente aconteceu? Quem nunca acordou e continuou no mesmo sonho ao adormecer novamente? Quem nunca se sentiu tão preso ao sonho que seria capaz de jurar que estava lá, de corpo e alma? Quem nunca sonhou com o barulho que escutava enquanto dormia? E, para ser bem lugar-comum, o que é o cinema senão uma grande fábrica de sonhos?
Digressões à parte, vamos ao filme. Leonardo Di Caprio (olhos rasgados, bom em filmes de ação) é Cobb, cujo trabalho é entrar no sonho das pessoas, descobrir onde elas guardam seus segredos mais valiosos e roubá-los. Cobb é um ladrão “corporativo”, e age quando a mente está em seu estado mais vulnerável. Existe uma máquina que o ajuda a fazer isso: dopa o sujeito que terá suas ideias surrupiadas e faz com que um grupo compartilhe o mesmo sonho (para o golpe dar certo). Mas Cobb tem um problema: depois da morte da mulher, Mal (Marion Cotillard), não pode voltar para casa, nos Estados Unidos. Ele foi acusado de matá-la, e há algo que o perturba muito nessa história. Mal o persegue nos sonhos: as lembranças de Cobb se misturam às missões profissionais.

4º estágio: o limbo
Cobb tem uma chance: se aceitar a proposta de um poderoso empresário, Saito (Ken Watanabe), ele conseguirá voltar para casa, para o lado dos filhos. A missão é inserir (plantar) uma ideia no herdeiro da corporação concorrente de Saito – e não roubar, como o usual. Para tanto, Cobb precisará montar uma equipe talentosa: a estudante de arquitetura Ariadne (Ellen Page), o falsário Eames (o bonitão Tom Hardy), o químico Yusuf (Dileep Rao) e o velho companheiro de trabalho Arthur (Joseph Gordon-Levitt, o gatinho de 500 dias com ela). O plano é entrar no sonho-do-sonho-do-sonho do homem a receber a ideia, bem no fundo de seu subconsciente. O espectador descobrirá que existe ainda um outro estágio, o limbo. Cada grau que a equipe desce, o tempo se multiplica por 20. Ou seja, 5 minutos de sono significam mais de uma hora de sonho, e por assim vai.
A fotografia do filme é incrível. Quando Ariadne aprende que pode construir qualquer coisa no sonho, ela passa a articular as ruas como se fossem peças de Lego; dobra, estica e puxa (dê uma olhada na foto abaixo). A intenção é criar labirintos, e as escadas de Escher são a influência máxima para eles. Os estágios do sonho têm características estéticas muito particulares, que não permitem que eles sejam confundidos entre si. Do meio para o fim do filme, o espectador assiste a quatro momentos distintos, ainda que simultâneos. É aventura das mais ricas e excitantes. Deixa o espectador pregado na cadeira, com os ombros tensionados, disposto a entrar na tela para conseguir ajudar os herois. Há furos no roteiro, que instigam a mais perguntas e respostas. No fim, como sempre, tudo dá certo. Ou seria apenas um sonho?
“Os sonhos parecem reais enquanto estamos dentro deles.
Apenas quando acordamos nos damos conta de que eles foram,
na verdade, muito estranhos.” Dom Cobb, em Inception

Assista ao trailer:

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