Com atraso de dez anos, chega ao Brasil o livro "Sabores perigosos: a história das especiarias", que conta como o interesse por ervas, temperos, condimentos e remédios exóticos definiu as rotas comerciais e deu início à globalização
CELSO MASSON

TEMPEROS
Uma pintura indiana de 1840 (acima) mostra um mercado de especiarias. Ervas podem ser condimento e remédio
Uma pintura indiana de 1840 (acima) mostra um mercado de especiarias. Ervas podem ser condimento e remédio
Para escrever Sabores perigosos, ele pesquisou as especiarias de forma obstinada. Sua meta: corrigir algumas das noções equivocadas sobre o modo como o interesse por ervas, temperos, condimentos e remédios exóticos definiu as rotas comerciais e deu início à globalização. “Vários historiadores britânicos do século XX me disseram que, em épocas medievais, os temperos serviam para ‘mascarar o gosto da comida podre’”, escreveu Dalby. Ele diz que a informação é falsa.
Por serem produtos extremamente caros naquele período, as especiarias só poderiam ser compradas pelos ricos, que tinham acesso a alimentos frescos e de qualidade. Outro mito derrubado por Dalby é que o empreendimento renascentista das grandes navegações, motivado pelo comércio das especiarias, se deveu ao papel desses produtos na gastronomia. É uma meia verdade. Plantas aromáticas, afirma, têm servido aos humanos como “aperitivos, digestivos, antissépticos, remédios, tônicos e afrodisíacos”. Tais propriedades, muito mais que temperar a comida, teriam justificado o investimento na criação de rotas terrestres e marítimas.

Ao rever mitos criados em torno das especiarias, Dalby recupera a origem de três condimentos muito importantes na Índia: o coentro, o cominho e o açafrão. Essas espécies são nativas do Mediterrâneo. Elas podem ter sido transplantadas pelos persas, por Alexandre, o Grande ou pelo imperador budista Asoka, que governou o norte da Índia no século III a.C.
Mais que corrigir noções equivocadas de história, o livro é um banquete para quem gosta de comida: ele disseca cerca de 60 especiarias contando sua origem, seus usos e suas propriedades. Traz ainda gravuras que ilustram aspectos da fisiologia das plantas e da vida cotidiana em diferentes regiões. Por fim, tenta decifrar o efeito de iguarias como a pimenta ou o chocolate naqueles que os provaram com desconfiança pela primeira vez, antes de se deixar seduzir por seus sabores e aromas. “Que nosso paladar e olfato continuem a ser estimulados de forma variável, imprevisível e exótica”, diz Dalby.

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