Como o Japão - um exemplo de tecnologia, planejamento e disciplina - enfrenta o maior terremoto de sua história
Liuca Yonaha. Com Aline Ribeiro, Eliseu Barreira Junior, José Antonio Lima, Juliano Machado e Marcelo Moura
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 12 de março de 2011. |
Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página. |
ONDA-MONSTRO
Um paredão de mais de 3 metros de altura varre Natori, no norte do Japão, atingido por um tsunami depois do terremoto
Um paredão de mais de 3 metros de altura varre Natori, no norte do Japão, atingido por um tsunami depois do terremoto
MAR REVOLTO
Na província de Ibaraki, um redemoinho se formou, com o tsunami, próximo ao porto
Na província de Ibaraki, um redemoinho se formou, com o tsunami, próximo ao porto
Até o fechamento desta edição, estavam confirmadas 350 mortes e havia 550 desaparecidos na tragédia. Os números finais só devem ser conhecidos depois de meses ou até anos (a contabilidade de mortos no terremoto de Kobe foi atualizada durante dez anos). A dor causada pelas mortes e pela destruição será inesquecível. “Meu carro foi suspenso e arrastado”, dizia Kazuyoshi Abe, de Ishinomaki, na província de Miyagi, cerca de cinco horas depois do tsunami. “Fiquei preso. Não consigo sair. A água continua a subir.” A cada novo abalo, o nível da água subia mais. Junyo Koshigaya, de 68 anos, estava próximo de um dique quando aconteceu o terremoto. Ele entrou no carro e correu para casa, num ponto alto da cidade de Soma, em Fukushima. “Quando vi, uma onda de 5 metros engoliu a vila lá embaixo.” Sua mulher quase foi tragada. “Meu carro foi levado. Achei que ia morrer”, diz ela.
O relato e o cenário de devastação, entretanto, não devem obscurecer a notícia mais impressionante que emerge da tragédia: não número de vidas perdidas – mas o número de vidas salvas, graças à disciplina e ao planejamento do Japão para esse tipo de catástrofe. As medidas preventivas foram responsáveis pela proteção de mais de 8,7 milhões de vidas, a população das quatro províncias costeiras mais afetadas (Miyagi, Iwate, Fukushima e Ibaraki). O tremor foi dez vezes mais intenso que o até então maior sismo da história do Japão, de 7,9 graus, em 1923, na região de Tóquio.
Naquela catástrofe, 140 mil morreram. É gritante a diferença na mortalidade provocada por um tremor de mais de 8 graus hoje em relação à década de 1920, quando o país tinha uma população de menos da metade dos atuais 126,9 milhões de habitantes. Também está fresco na memória o cataclismo no Haiti, em janeiro do ano passado, um sismo de 7 graus que matou 230 mil. Basta comparar esses números ao saldo do terremoto da semana passada para perceber como o Japão está preparado para enfrentar os infortúnios de sua situação geográfica.
Qual é o segredo desse preparo? Que lições o Japão poderia trazer para países como o Brasil, às voltas com catástrofes naturais cada vez mais frequentes e mortíferas? A primeira dessas lições – e a mais importante – é a construção e manutenção de uma estrutura de alerta eficaz, que envolve toda a comunidade. Os avisos por TV, rádio e alarmes começam minutos antes de ocorrer o tremor. Quando os equipamentos sismológicos detectam movimentos, há anúncios nos meios de comunicação indicando as regiões que poderão ser afetadas. Após o tremor, são informados o epicentro, a magnitude e a possibilidade de formação das ondas gigantes. Apesar de haver apenas 15 minutos entre o tremor e a chegada do tsunami na semana passada, esse intervalo foi suficiente para orientar a população a subir em prédios de concreto e se abrigar acima do 3o andar.
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