Toda mulher já fingiu um orgasmo na vida, arrisco dizer. No filme “Harry & Sally”(1989), Meg Ryan dá uma aula nesta clássica cena aqui. Bancar a atriz na cama, de vez em quando, é simples, indolor e bem prático. Mas o tempo todo deve ser um saco. Recebi muitos comentários de leitoras infelizes, para as quais fingir é infinitamente mais frequente do que sentir. Algumas são casadas há anos e estão cansadas de encenação. Outras nunca se viram arrebatadas por uma sensação dessas. Elas perguntam “o que faço para chegar lá?” à espera de uma resposta fácil como “pegue à direita e dobre à esquerda no semáforo”.
Acontece que gozo não tem endereço fixo. Para mostrar alguns caminhos rumo ao ápice do prazer, fui tomar um café com a ginecologista Carolina Ambrogini. Ela é criadora do Projeto Afrodite, um centro multidisciplinar que atende gratuitamente mulheres com disfunções sexuais. Nas consultas, elas reclamam de distúrbios de dor como vaginismo, de dimunuição da libido e até anorgasmia, a tal dificuldade persistente de ter orgasmo. A médica divide essas paciente em três grupos (apelidados pelo Sexpedia) e sugere soluções para cada um deles.
Grupo 1: “Ah, então era isso?”
Elas não sabem o que é um orgasmo e nunca se atreveram a perguntar. Em palestra, a doutora compara gozar com espirrar: “é uma onda de vontade que vai crescendo e crescendo, até você não segurar mais e liberar aquilo”. Assim como um espirro, é intenso, te deixa molhada e dura poucos segundos. Mulheres que assistem novelas e filmes demais acreditam não ter orgasmos pois nunca viram estrelas nem gemeram como as personagens. “Elas até se decepcionam quando descobrem o nome daquela sensação rápida”, diz Carolina. Há ainda quem se ache anorgástica porque não ejacula como o homem (deixe a liberação de líquidos com ele, ok?), porque não chega lá JUNTO com o parceiro (nem sempre dá para sincronizar os ponteiros) ou porque só consegue gozar com estimulação do clitóris (ei, apenas 30% de nós goza com penetração!).
*O que fazer: Se você sentiu uma vontade de espirrar com o corpo todo e depois relaxou… parabéns, você teve um orgasmo! Só precisa de uma soneca.
Grupo 2: “Me tocar? Oi?”
Com muita vergonha do próprio corpo, elas nunca se tocaram e jogam toda a responsabilidade do orgasmo no parceiro. Cresceram sem conhecer a anatomia que suas calcinhas escondem provavelmente porque, quando crianças, foram inibidas. “A partir dos 4 anos é normal o descobrimento da genitália, sem erotismo”, diz a ginecologista. O menino pode folhear revista pornô no banheiro, mas a menina costuma ouvir da família que “é feio e sujo botar a mão aí”. Ela vira mulher, mas continua achando proibido se tocar e procurar suas zonas erógenas. No sexo, não sabe dizer onde é gostoso ou não. “A masturbação é um momento de intimidade que você tem com o seu corpo e não interessa a mais ninguém”, diz Carolina.
*O que fazer: Exercícios com os dois “F”, de fantasia e fricção. Explore o clitóris com dedo ou vibrador – ou ainda com um travesseiro entre as pernas, se você realmente não consegue se tocar. Repare onde gosta de ser acariciada e dê recados sutis ao parceiro. Mesmo que você finja há décadas, jamais diga “não consigo gozar contigo” ou vai ferir a masculinidade dele. Melhor inventar que leu em algum lugar que de tal jeito é bem bom…
Grupo 3: “Libero a vagina, não os instintos”
Liberais e bem-resolvidas, elas se conhecem e se masturbam, mas não conseguem alcançar o orgasmo durante o sexo. “O orgasmo é uma perda momentânea do controle, significa ficar vulnerável ao outro”, afirma Carolina. Algumas mulheres não conseguem abstrair o concreto, se deixar levar pelas sensações, liberar seus instintos. Inconscientemente, tem medo de se entregar e confiar no outro.
*O que fazer: A leitura de contos eróticos pode ajudar você a sair da realidade e entrar no mundo da fantasia, onde tudo é permitido. Sessões de terapia também seriam úteis.
Concordo com a Dra Carolina que “orgasmo é uma sensação individual e cada um que conquiste o seu”, mas acrescentaria um quarto grupo… o dos namorados e maridos preguiçosos. Porque, meu bem, a culpa nem sempre é só sua. Se ele sofre de disfunções como ejaculação precoce (goza rapidíssimo e vira pro lado) ou penetração precoce (mal dá “oi” e vai entrando), fica difícil mesmo. E se o cara for um querido esforçado, o importante é que você não se jogue na transa com pessimismo do tipo “ai, acaba logo”. Não há pior balde de água fria que uma mente distraída e negativa. Encare, no mínimo, como um momento legal, de troca de intimidade. Questões hormonais, troca de parceiro e idade podem alterar a excitação e o prazer. Só são consideradas anorgásticas mulheres que estão há seis meses ou mais sem gozar. Ainda assim, com tempo e tratamento, você volta a subir pelas paredes.
Projeto Afrodite
Rua Embaú, 66, Vila Mariana, São Paulo/SP.
Funcionamento: terça e quarta, das 13h às 16h.
Agende sua consulta gratuita pelo telefone (11) 5549-6174.
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