1. A dona-de-casa ou a dona de casa?
Dona de casa sofre até na hora de ser escrita. É com hífen ou não?
Segundo o dicionário Aurélio, devíamos usar hifens (ou hífenes, como preferem alguns): dona-de-casa. O dicionário Houaiss nos ensinava que devíamos escrever sem hífen: dona de casa.
E agora, que fazer?
De acordo com as regras ortográficas anteriores ao novo acordo, devíamos ligar por hífen “os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido”.
Dentro desse princípio, devíamos usar o hífen nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica.
Para ficar mais claro, é interessante observarmos um exemplo inquestionável: copo-de-leite e copo de leite.
Em copo de leite, sem hífen, cada elemento mantém a sua significação: copo é copo e leite é leite; em copo-de-leite, com hifens, temos um conjunto com uma nova unidade de sentido: copo-de-leite é uma planta.
A dúvida quanto à dona de casa era se o conjunto forma uma unidade de sentido ou se cada elemento conserva isoladamente sua significação.
Esse tipo de dúvida acabou com o novo acordo ortográfico. A partir de agora, os compostos com elemento de conexão só receberão hifens se for palavra ligada à botânica ou à zoologia: copo-de-leite, banana-da-terra, joão-de-barro, galinha-d’Angola…
Isso significa que os compostos com elementos de conexão que não são nomes de animais ou plantas devem ser grafados sem hífen: pé de moleque, pé de cabra, general de divisão, pão de ló, fim de semana, disse me disse, dia a dia, passo a passo…
Assim sendo, agora não há mais dúvida: DONA DE CASA deve ser escrita sem hifens.
2. Não confunda gênero com sexo
Cadeira é um substantivo feminino e banco é masculino. Por mais que você examine uma cadeira e um banco, não encontrará nenhum sinal do sexo feminino na cadeira nem do sexo masculino no banco. Bancos e cadeiras não mantêm relações sexuais para fazer “banquinhos”!!!
Cadeira não é um substantivo feminino porque termina em “a”. Existem várias palavras terminadas em “a” que são masculinas: o problema, receber um tapa, dar dois telefonemas, duzentos gramas de presunto…
A distinção do gênero nos substantivos não tem fundamentos racionais. Quem determina o gênero é a tradição fixada pelo uso. A comparação com outras línguas, mesmo de origem latina, comprova a inconsistência do gênero gramatical: a viagem / el viaje (espanhol); o sangue / la sangre (espanhol), la sang (francês)…
Nossos leitores têm algumas dúvidas:
1a) Personagem é masculino ou feminino?
2a) Qual é o feminino de poeta: a poetisa ou a poeta?
Chamamos de SOBRECOMUNS os nomes de um só gênero gramatical que se aplicam, indistintamente, a homens e a mulheres: o cônjuge, o indivíduo, o sósia, a criança, a pessoa, a vítima…
São chamados de COMUNS DE DOIS os substantivos que têm uma só forma para os dois sexos. A distinção é feita pela anteposição de “o”, para o masculino, e “a”, para o feminino: o/a artista, o/a doente, o/a mártir, o/a jovem…
Na sua origem, PERSONAGEM era um substantivo sobrecomum do gênero feminino, ou seja, “a personagem” poderia ser usada tanto para a mulher quanto para o homem. Hoje em dia, porém, PERSONAGEM tornou-se um substantivo comum de dois: a personagem, para mulheres, e o personagem, para homens. O dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras consideram PERSONAGEM substantivo de dois gêneros, ou seja, o/a personagem.
Quanto ao feminino de POETA, temos uma bela polêmica. Segundo a tradição e os nossos principais dicionários, o feminino de poeta é POETISA. Recentemente, no meio artístico, tornou-se moda distinguir A POETISA (=pessoa do sexo feminino que faz poesia) de A POETA (=mulher que faz poesia de reconhecida qualidade literária). Trata-se de um juízo de valor que ainda não tem o respaldo da maioria dos estudiosos e de nossos principais dicionários. Se essa moda “vai pegar”, só o tempo dirá.
Segundo o mestre e acadêmico Evanildo Bechara:
a) são masculinos: o…clã, champanha, dó, formicida, grama (unidade de massa/peso), milhar, pijama, sósia, telefonema…
b) são femininos: a…aguardente, alface, análise, bacanal, cal, cólera, dinamite, libido, síndrome, faringe…
c) são indiferentemente masculinos ou femininos: o ou a…avestruz, crisma, diabete, gambá, hélice, ordenança, personagem, sabiá, sentinela, soprano, suéter, tapa, trama…
Dona de casa sofre até na hora de ser escrita. É com hífen ou não?
Segundo o dicionário Aurélio, devíamos usar hifens (ou hífenes, como preferem alguns): dona-de-casa. O dicionário Houaiss nos ensinava que devíamos escrever sem hífen: dona de casa.
E agora, que fazer?
De acordo com as regras ortográficas anteriores ao novo acordo, devíamos ligar por hífen “os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido”.
Dentro desse princípio, devíamos usar o hífen nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica.
Para ficar mais claro, é interessante observarmos um exemplo inquestionável: copo-de-leite e copo de leite.
Em copo de leite, sem hífen, cada elemento mantém a sua significação: copo é copo e leite é leite; em copo-de-leite, com hifens, temos um conjunto com uma nova unidade de sentido: copo-de-leite é uma planta.
A dúvida quanto à dona de casa era se o conjunto forma uma unidade de sentido ou se cada elemento conserva isoladamente sua significação.
Esse tipo de dúvida acabou com o novo acordo ortográfico. A partir de agora, os compostos com elemento de conexão só receberão hifens se for palavra ligada à botânica ou à zoologia: copo-de-leite, banana-da-terra, joão-de-barro, galinha-d’Angola…
Isso significa que os compostos com elementos de conexão que não são nomes de animais ou plantas devem ser grafados sem hífen: pé de moleque, pé de cabra, general de divisão, pão de ló, fim de semana, disse me disse, dia a dia, passo a passo…
Assim sendo, agora não há mais dúvida: DONA DE CASA deve ser escrita sem hifens.
2. Não confunda gênero com sexo
Cadeira é um substantivo feminino e banco é masculino. Por mais que você examine uma cadeira e um banco, não encontrará nenhum sinal do sexo feminino na cadeira nem do sexo masculino no banco. Bancos e cadeiras não mantêm relações sexuais para fazer “banquinhos”!!!
Cadeira não é um substantivo feminino porque termina em “a”. Existem várias palavras terminadas em “a” que são masculinas: o problema, receber um tapa, dar dois telefonemas, duzentos gramas de presunto…
A distinção do gênero nos substantivos não tem fundamentos racionais. Quem determina o gênero é a tradição fixada pelo uso. A comparação com outras línguas, mesmo de origem latina, comprova a inconsistência do gênero gramatical: a viagem / el viaje (espanhol); o sangue / la sangre (espanhol), la sang (francês)…
Nossos leitores têm algumas dúvidas:
1a) Personagem é masculino ou feminino?
2a) Qual é o feminino de poeta: a poetisa ou a poeta?
Chamamos de SOBRECOMUNS os nomes de um só gênero gramatical que se aplicam, indistintamente, a homens e a mulheres: o cônjuge, o indivíduo, o sósia, a criança, a pessoa, a vítima…
São chamados de COMUNS DE DOIS os substantivos que têm uma só forma para os dois sexos. A distinção é feita pela anteposição de “o”, para o masculino, e “a”, para o feminino: o/a artista, o/a doente, o/a mártir, o/a jovem…
Na sua origem, PERSONAGEM era um substantivo sobrecomum do gênero feminino, ou seja, “a personagem” poderia ser usada tanto para a mulher quanto para o homem. Hoje em dia, porém, PERSONAGEM tornou-se um substantivo comum de dois: a personagem, para mulheres, e o personagem, para homens. O dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras consideram PERSONAGEM substantivo de dois gêneros, ou seja, o/a personagem.
Quanto ao feminino de POETA, temos uma bela polêmica. Segundo a tradição e os nossos principais dicionários, o feminino de poeta é POETISA. Recentemente, no meio artístico, tornou-se moda distinguir A POETISA (=pessoa do sexo feminino que faz poesia) de A POETA (=mulher que faz poesia de reconhecida qualidade literária). Trata-se de um juízo de valor que ainda não tem o respaldo da maioria dos estudiosos e de nossos principais dicionários. Se essa moda “vai pegar”, só o tempo dirá.
Segundo o mestre e acadêmico Evanildo Bechara:
a) são masculinos: o…clã, champanha, dó, formicida, grama (unidade de massa/peso), milhar, pijama, sósia, telefonema…
b) são femininos: a…aguardente, alface, análise, bacanal, cal, cólera, dinamite, libido, síndrome, faringe…
c) são indiferentemente masculinos ou femininos: o ou a…avestruz, crisma, diabete, gambá, hélice, ordenança, personagem, sabiá, sentinela, soprano, suéter, tapa, trama…
Temas polêmicos
qua, 15/09/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. Falando “certo”
Com muita frequência, perguntam a mim por que na Rede Globo só se fala “récorde” quando o “certo” é recorde.
Meus leitores têm alguma dose de razão. Digamos que, oficialmente, pelo menos segundo nossos principais dicionários e o Vocabulário Ortográfico publicado pela Academia Brasileira de Letras, o “certo” é dizer recorde (=”recórde”). Oficialmente, portanto, recorde é um vocábulo paroxítono (sem acento gráfico).
Eu gostaria de saber por que o “certo” é recorde se existe uma clara oscilação entre as duas pronúncias: recorde e récorde. Não é só na Rede Globo que ouvimos “récorde”. Uma boa parcela dos falantes da língua portuguesa, principalmente no Brasil, fala “récorde”. Pode até ser influência da Globo.
Outra verdade é que existem outras palavras que os nossos dicionários já registram com dupla pronúncia: xérox e xerox, dúplex e duplex, biótipo e biotipo…
Então, por que não aceitar récorde como variante legítima de recorde?
O caso de biótipo é um belo exemplo. Os vocábulos terminados em “tipo”, normalmente, são proparoxítonos: protótipo, arquétipo, genótipo, estereótipo. Por isso, oficialmente era biótipo. No Brasil, porém, a pronúncia biotipo (paroxítona) está consagrada, e os nossos dicionários já registram as duas pronúncias: biótipo e biotipo. É importante lembrar que isso não é uma exceção nem anomalia gramatical, pois existem outras palavras paroxítonas terminadas em “tipo”: linotipo, logotipo…
Outro caso que me intriga é o da palavra necropsia. Se falamos autópsia e biópsia, por que não podemos falar “necrópsia”? Parece incoerência, principalmente quando os nossos principais dicionários e o Vocabulário Orográfico da ABL registram biopsia e biópsia, autopsia e autópsia, mas só registravam necropsia.
Por que não “necrópsia”, se é assim que muitos brasileiros, talvez a maioria, falam. A boa notícia é que a última edição do Vocabulário Ortográfico, publicada em 2009 pela Academia Brasileira de Letras, registra as duas formas: necrópsia e necropsia.
Em razão disso tudo, não entendo por que impor uma pronúncia como “certa” (recorde) e a outra como “errada” (“récorde”).
Em qualquer concurso, devemos respeitar a grafia oficial. Entenda-se como oficial a forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras.
Segundo o acadêmico Evanildo Bechara:
São palavras oxítonas: cateter, Nobel, recém, refém, ruim, ureter…
São paroxítonas: avaro, caracteres, erudito, filantropo, ibero, látex, maquinaria, pudico, recorde…
São proparoxítonas: epíteto, ínterim, lêvedo, monólito, ômega…
Palavras que admitem dupla pronúncia: acróbata ou acrobata, crisântemo ou crisantemo, hieróglifo ou hieroglifo, Oceânia ou Oceania, ortoépia ou ortoepia, projétil ou projetil, autópsia ou autopsia, biópsia ou biopsia, necrópsia ou necropsia…
2. A metamorfose e a metafonia
Metamorfose é uma palavra formada por elementos de origem grega: META, que significa “mudança”, e MORFO, que significa “forma”. Metamorfose, portanto, é a “mudança da forma”. Corresponde à palavra transformação, de origem latina: TRANS (=META) + FORMA (=MORFO). Os sufixos “-ose”, do grego, e “-ção”, do latim, significam “ato ou efeito da ação, processo”.
Morfologia é a parte da gramática que estuda o aspecto formal das palavras: gênero (masculino/feminino), número (singular/plural), grau (aumentativo/diminutivo, comparativo/superlativo), elementos formadores das palavras (raízes, prefixos, sufixos, radicais, desinências…).
Metáfora é aquela figura de estilo que se caracteriza por uma “mudança”: as palavras são usadas num sentido figurado devido a uma comparação subjetiva por semelhança. Quando afirmamos que “a menina é uma flor”, o substantivo FLOR está usado fora do seu sentido real (a flor propriamente dita). Queremos dizer que a menina é tão linda ou delicada quanto uma flor. Comparamos subjetivamente a beleza da menina com a beleza de uma flor. Isso é metáfora.
E a metafonia?
O elemento grego FONIA – que conhecemos em sinfonia, telefone, microfone, fonética etc. – significa “som”. Metafonia, portanto, é a “mudança do som”. É o nome que se dá para um fenômeno curioso: são aqueles vocábulos em que a vogal tônica de timbre fechado /ô/ muda para timbre aberto /ó/, quando vão para o feminino ou para o plural: porco (/ô/) – porca e porcos (/ó/).
O problema é que existem palavras em que não ocorre metafonia: cachorro – cachorra e cachorros (/ô/). Existem aquelas que apresentam diferentes pronúncias: sogro (/ô/) – sogra (/ó/) e sogros (/ô/, no Brasil; /ó/, em Portugal).
Há palavras em que a metafonia acontece somente no plural: caroço – caroços; tijolo – tijolos; posto – postos; jogo – jogos…
Há palavras que não sofrem metafonia: bolso – bolsos; acordo – acordos; bolo – bolos; coco – cocos…
E há aquelas que nos deixam em dúvida: o plural de forno é “fôrnos” ou “fórnos”? Embora muitos pronunciem com timbre fechado, oficialmente devemos falar fornos com timbre aberto (/ó/).
Segundo o mestre Evanildo Bechara, sofrem metafonia (mudança de timbre na vogal tônica = /ô/ para /ó/): coro – coros; corpo – corpos; corvo – corvos; destroço – destroços; forno – fornos; foro – foros; fosso – fossos; miolo – miolos; poço – poços; socorro – socorros; torto – tortos; troco – trocos…
Não sofrem metafonia (=mantêm o timbre fechado /ô/): adornos, almoços, alvoroços, caolhos, contornos, esboços, esposos, globos, gozos, jorros, sogros, sopros, soros, transtornos…
Com muita frequência, perguntam a mim por que na Rede Globo só se fala “récorde” quando o “certo” é recorde.
Meus leitores têm alguma dose de razão. Digamos que, oficialmente, pelo menos segundo nossos principais dicionários e o Vocabulário Ortográfico publicado pela Academia Brasileira de Letras, o “certo” é dizer recorde (=”recórde”). Oficialmente, portanto, recorde é um vocábulo paroxítono (sem acento gráfico).
Eu gostaria de saber por que o “certo” é recorde se existe uma clara oscilação entre as duas pronúncias: recorde e récorde. Não é só na Rede Globo que ouvimos “récorde”. Uma boa parcela dos falantes da língua portuguesa, principalmente no Brasil, fala “récorde”. Pode até ser influência da Globo.
Outra verdade é que existem outras palavras que os nossos dicionários já registram com dupla pronúncia: xérox e xerox, dúplex e duplex, biótipo e biotipo…
Então, por que não aceitar récorde como variante legítima de recorde?
O caso de biótipo é um belo exemplo. Os vocábulos terminados em “tipo”, normalmente, são proparoxítonos: protótipo, arquétipo, genótipo, estereótipo. Por isso, oficialmente era biótipo. No Brasil, porém, a pronúncia biotipo (paroxítona) está consagrada, e os nossos dicionários já registram as duas pronúncias: biótipo e biotipo. É importante lembrar que isso não é uma exceção nem anomalia gramatical, pois existem outras palavras paroxítonas terminadas em “tipo”: linotipo, logotipo…
Outro caso que me intriga é o da palavra necropsia. Se falamos autópsia e biópsia, por que não podemos falar “necrópsia”? Parece incoerência, principalmente quando os nossos principais dicionários e o Vocabulário Orográfico da ABL registram biopsia e biópsia, autopsia e autópsia, mas só registravam necropsia.
Por que não “necrópsia”, se é assim que muitos brasileiros, talvez a maioria, falam. A boa notícia é que a última edição do Vocabulário Ortográfico, publicada em 2009 pela Academia Brasileira de Letras, registra as duas formas: necrópsia e necropsia.
Em razão disso tudo, não entendo por que impor uma pronúncia como “certa” (recorde) e a outra como “errada” (“récorde”).
Em qualquer concurso, devemos respeitar a grafia oficial. Entenda-se como oficial a forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras.
Segundo o acadêmico Evanildo Bechara:
São palavras oxítonas: cateter, Nobel, recém, refém, ruim, ureter…
São paroxítonas: avaro, caracteres, erudito, filantropo, ibero, látex, maquinaria, pudico, recorde…
São proparoxítonas: epíteto, ínterim, lêvedo, monólito, ômega…
Palavras que admitem dupla pronúncia: acróbata ou acrobata, crisântemo ou crisantemo, hieróglifo ou hieroglifo, Oceânia ou Oceania, ortoépia ou ortoepia, projétil ou projetil, autópsia ou autopsia, biópsia ou biopsia, necrópsia ou necropsia…
2. A metamorfose e a metafonia
Metamorfose é uma palavra formada por elementos de origem grega: META, que significa “mudança”, e MORFO, que significa “forma”. Metamorfose, portanto, é a “mudança da forma”. Corresponde à palavra transformação, de origem latina: TRANS (=META) + FORMA (=MORFO). Os sufixos “-ose”, do grego, e “-ção”, do latim, significam “ato ou efeito da ação, processo”.
Morfologia é a parte da gramática que estuda o aspecto formal das palavras: gênero (masculino/feminino), número (singular/plural), grau (aumentativo/diminutivo, comparativo/superlativo), elementos formadores das palavras (raízes, prefixos, sufixos, radicais, desinências…).
Metáfora é aquela figura de estilo que se caracteriza por uma “mudança”: as palavras são usadas num sentido figurado devido a uma comparação subjetiva por semelhança. Quando afirmamos que “a menina é uma flor”, o substantivo FLOR está usado fora do seu sentido real (a flor propriamente dita). Queremos dizer que a menina é tão linda ou delicada quanto uma flor. Comparamos subjetivamente a beleza da menina com a beleza de uma flor. Isso é metáfora.
E a metafonia?
O elemento grego FONIA – que conhecemos em sinfonia, telefone, microfone, fonética etc. – significa “som”. Metafonia, portanto, é a “mudança do som”. É o nome que se dá para um fenômeno curioso: são aqueles vocábulos em que a vogal tônica de timbre fechado /ô/ muda para timbre aberto /ó/, quando vão para o feminino ou para o plural: porco (/ô/) – porca e porcos (/ó/).
O problema é que existem palavras em que não ocorre metafonia: cachorro – cachorra e cachorros (/ô/). Existem aquelas que apresentam diferentes pronúncias: sogro (/ô/) – sogra (/ó/) e sogros (/ô/, no Brasil; /ó/, em Portugal).
Há palavras em que a metafonia acontece somente no plural: caroço – caroços; tijolo – tijolos; posto – postos; jogo – jogos…
Há palavras que não sofrem metafonia: bolso – bolsos; acordo – acordos; bolo – bolos; coco – cocos…
E há aquelas que nos deixam em dúvida: o plural de forno é “fôrnos” ou “fórnos”? Embora muitos pronunciem com timbre fechado, oficialmente devemos falar fornos com timbre aberto (/ó/).
Segundo o mestre Evanildo Bechara, sofrem metafonia (mudança de timbre na vogal tônica = /ô/ para /ó/): coro – coros; corpo – corpos; corvo – corvos; destroço – destroços; forno – fornos; foro – foros; fosso – fossos; miolo – miolos; poço – poços; socorro – socorros; torto – tortos; troco – trocos…
Não sofrem metafonia (=mantêm o timbre fechado /ô/): adornos, almoços, alvoroços, caolhos, contornos, esboços, esposos, globos, gozos, jorros, sogros, sopros, soros, transtornos…
Dúvidas dos leitores
qua, 08/09/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
A dúvida é: Queremos agradecer-lhes pela ou a audiência?
A resposta é: Queremos agradecer-lhes a audiência.
O verbo agradecer é transitivo direto e indireto: agradecer alguma coisa (=objeto direto) a alguém (objeto indireto). Não agradecemos a alguém (objeto indireto) “por” alguma coisa (outro objeto indireto). Em “agradecer-lhes a audiência”, o pronome “lhes” exerce a função do objeto indireto e “a audiência” é o objeto direto.
Usar a expressão com a gente num texto formal é tão inadequado quanto usar conosco no “chopinho” da sexta-feira. Se alguém disser no barzinho que “ontem ela esteve aqui conosco”, vão pensar que ele está de porre. Se falar conosco na beira da praia, vão pensar que é biscoito: “dá um conosquinho aí”. Então, que fique bem claro: em textos formais, “Ele está aqui conosco”; na linguagem coloquial, “Ele está aqui com a gente”.
A dúvida é: Vamos analisar os casos que estão por ora ou por hora pendentes?
A resposta é: Vamos analisar os casos que estão por ora pendentes.
No sentido de “por enquanto, no momento”, devemos usar a forma “por ora”, sem “h”. Ora é um advérbio de tempo que significa “agora, no presente momento”. Hora com “h” é a unidade de medida de tempo que equivale a 60 minutos: “Nesta avenida, a velocidade máxima permitida é 80 quilômetros por hora”.
Também devemos usar ora sem “h” se for interjeição que exprime impaciência, surpresa, dúvida ou ironia. É o famoso “ora bolas!”. Também usamos ora sem “h” quando se trata de conjunção alternativa: “Ora trabalha ora estuda”. Isso não significa que se trabalha durante uma hora e em outra hora se estuda. “Ora…ora” significa que se trabalha e se estuda em momentos alternados.
A dúvida é: É bom você se previnir ou prevenir?
A resposta é: É bom você se prevenir.
Mesmo os mais prevenidos correm o risco de escrever previnir. Com muita frequência confundimos a vogais “e” e “i”. Em algumas regiões, é comum pronunciarmos a vogal “e” como se fosse “i”: “denti” por dente, “quasi” por quase, “venho di São Paulo” por venho de São Paulo… Quando são palavras conhecidas, dificilmente há dúvidas na hora de escrever.
O problema são aquelas palavras que são menos usadas, que são pouco vistas, que quase não escrevemos. Ortografia é uma questão de “memória visual”, por isso a leitura é fundamental. Observe alguns exemplos perigosos: aéreo, anteontem, cadeado, campeão, carestia, desenfreado, despender, empecilho, enteado, irrequieto, paletó, penico, periquito, quepe…
Anote aí algumas palavras que se escrevem com “i”: artifício, crânio, dentifrício, digladiar, dilapidar, dispêndio, intitular, meritíssimo, privilégio…
Na frase, “por causa da pista molhada, os pneus deslisaram”, quem deslizou foi o autor da frase. Se você escrever o verbo deslizar com “z”, nunca mais cometerá deslizes. O verbo deslisar com “s” existe, mas significa “tornar liso”. É o mesmo que alisar. Os verbos “deslisar” e “alisar” se escrevem com “s” porque são derivados de “liso”, que se escreve com “s”.
A frase “Vivia em condições subumanas” está correta. Com o prefixo “sub-”, só usamos o hífen se a palavra seguinte começar por “b” ou “r”: sub-base, sub-bibliotecária, sub-raça, sub-reino, sub-reitor. Assim sendo, quando a palavra seguinte começar por qualquer letra diferente de “b” ou “r”, devemos escrever “tudo junto”, como se diz popularmente: subchefe, submarino, subterrâneo, subsecretário, subsolo, suburbano, subemprego, subitem…
Segundo o novo acordo ortográfico, porém, com o prefixo “sub-“, se a palavra seguinte começar por “h”, podemos usar hífen ou não. Assim sendo, há duas grafias corretas: sub-humano e subumano.
Quando a palavra seguinte começa por “h”, se não houver hífen, a letra “h” some, pois só usamos a letra “h” isolada no início de palavra. Assim sendo, sub+humano fica subumano. O mesmo ocorre em desumano (des+humano), desarmonia (des+harmonia), reaver (re+haver)…
A dúvida é: Precisamos chamar um eletricista ou eletrecista?
A resposta é: Precisamos chamar um eletricista.
Eletricista é derivado de elétrico, por isso devemos escrever com “i”, assim como: eletricidade, eletrificar, eletrificação, eletricismo…
Com muita frequência confundimos as vogais “e” e “i”. Um caso que merece muita atenção é cardeal e cardial. Cardeal pode ser o religioso ou o pássaro. Também escrevemos com “e” o termo que designa as direções da rosa dos ventos que apontam para o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste: são os pontos cardeais. Só escrevemos cardial, com “i”, quando nos referimos ao “cárdio” (coração em grego). Daí a cardiologia, que é o estudo do coração. A válvula cardial é a válvula do coração.
A dúvida é: Não foi possível ver a calda ou cauda do cometa?
A resposta é: Não foi possível ver a cauda do cometa.
Cometa só teria calda se tivesse “rabinho doce”. Calda é uma solução açucarada: calda de caramelo, pêssegos em calda… Cauda é rabo, apêndice: cauda do macaco, piano de cauda, cauda do cometa…
Você sabe qual é a diferença entre animais capturados e animais apreendidos? Se o leão fugir do circo, os bombeiros serão chamados para capturá-lo; se alguém estiver vendendo micos-leões ali na esquina (o que é ilegal), o Ibama deve apreender os animais e a polícia prender os traficantes.
A dúvida é: É proibida, qualquer que seja ou quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos?
A resposta é: É proibida, quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos.
Qualquer é um pronome que deve concordar com o substantivo a que se refere: “quaisquer motivos”, “quaisquer problemas”, “quaisquer pessoas”… Em geral, o singular já é suficiente: “qualquer motivo”, “qualquer problema”, “qualquer pessoa”. Isso significa que também estaria correto: “É proibida, qualquer que seja o motivo, a entrada de estranhos”.
Na frase “Estou aqui para resolver todo e qualquer problema”, a expressão “todo e qualquer” é redundante. “Todo problema” significa “qualquer problema”. Bastaria dizer: “Estou aqui para resolver todo problema” ou “Estou aqui para resolver qualquer problema”. Como toda redundância, somente a ênfase justifica o seu uso.
A resposta é: Queremos agradecer-lhes a audiência.
O verbo agradecer é transitivo direto e indireto: agradecer alguma coisa (=objeto direto) a alguém (objeto indireto). Não agradecemos a alguém (objeto indireto) “por” alguma coisa (outro objeto indireto). Em “agradecer-lhes a audiência”, o pronome “lhes” exerce a função do objeto indireto e “a audiência” é o objeto direto.
Usar a expressão com a gente num texto formal é tão inadequado quanto usar conosco no “chopinho” da sexta-feira. Se alguém disser no barzinho que “ontem ela esteve aqui conosco”, vão pensar que ele está de porre. Se falar conosco na beira da praia, vão pensar que é biscoito: “dá um conosquinho aí”. Então, que fique bem claro: em textos formais, “Ele está aqui conosco”; na linguagem coloquial, “Ele está aqui com a gente”.
A dúvida é: Vamos analisar os casos que estão por ora ou por hora pendentes?
A resposta é: Vamos analisar os casos que estão por ora pendentes.
No sentido de “por enquanto, no momento”, devemos usar a forma “por ora”, sem “h”. Ora é um advérbio de tempo que significa “agora, no presente momento”. Hora com “h” é a unidade de medida de tempo que equivale a 60 minutos: “Nesta avenida, a velocidade máxima permitida é 80 quilômetros por hora”.
Também devemos usar ora sem “h” se for interjeição que exprime impaciência, surpresa, dúvida ou ironia. É o famoso “ora bolas!”. Também usamos ora sem “h” quando se trata de conjunção alternativa: “Ora trabalha ora estuda”. Isso não significa que se trabalha durante uma hora e em outra hora se estuda. “Ora…ora” significa que se trabalha e se estuda em momentos alternados.
A dúvida é: É bom você se previnir ou prevenir?
A resposta é: É bom você se prevenir.
Mesmo os mais prevenidos correm o risco de escrever previnir. Com muita frequência confundimos a vogais “e” e “i”. Em algumas regiões, é comum pronunciarmos a vogal “e” como se fosse “i”: “denti” por dente, “quasi” por quase, “venho di São Paulo” por venho de São Paulo… Quando são palavras conhecidas, dificilmente há dúvidas na hora de escrever.
O problema são aquelas palavras que são menos usadas, que são pouco vistas, que quase não escrevemos. Ortografia é uma questão de “memória visual”, por isso a leitura é fundamental. Observe alguns exemplos perigosos: aéreo, anteontem, cadeado, campeão, carestia, desenfreado, despender, empecilho, enteado, irrequieto, paletó, penico, periquito, quepe…
Anote aí algumas palavras que se escrevem com “i”: artifício, crânio, dentifrício, digladiar, dilapidar, dispêndio, intitular, meritíssimo, privilégio…
Na frase, “por causa da pista molhada, os pneus deslisaram”, quem deslizou foi o autor da frase. Se você escrever o verbo deslizar com “z”, nunca mais cometerá deslizes. O verbo deslisar com “s” existe, mas significa “tornar liso”. É o mesmo que alisar. Os verbos “deslisar” e “alisar” se escrevem com “s” porque são derivados de “liso”, que se escreve com “s”.
A frase “Vivia em condições subumanas” está correta. Com o prefixo “sub-”, só usamos o hífen se a palavra seguinte começar por “b” ou “r”: sub-base, sub-bibliotecária, sub-raça, sub-reino, sub-reitor. Assim sendo, quando a palavra seguinte começar por qualquer letra diferente de “b” ou “r”, devemos escrever “tudo junto”, como se diz popularmente: subchefe, submarino, subterrâneo, subsecretário, subsolo, suburbano, subemprego, subitem…
Segundo o novo acordo ortográfico, porém, com o prefixo “sub-“, se a palavra seguinte começar por “h”, podemos usar hífen ou não. Assim sendo, há duas grafias corretas: sub-humano e subumano.
Quando a palavra seguinte começa por “h”, se não houver hífen, a letra “h” some, pois só usamos a letra “h” isolada no início de palavra. Assim sendo, sub+humano fica subumano. O mesmo ocorre em desumano (des+humano), desarmonia (des+harmonia), reaver (re+haver)…
A dúvida é: Precisamos chamar um eletricista ou eletrecista?
A resposta é: Precisamos chamar um eletricista.
Eletricista é derivado de elétrico, por isso devemos escrever com “i”, assim como: eletricidade, eletrificar, eletrificação, eletricismo…
Com muita frequência confundimos as vogais “e” e “i”. Um caso que merece muita atenção é cardeal e cardial. Cardeal pode ser o religioso ou o pássaro. Também escrevemos com “e” o termo que designa as direções da rosa dos ventos que apontam para o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste: são os pontos cardeais. Só escrevemos cardial, com “i”, quando nos referimos ao “cárdio” (coração em grego). Daí a cardiologia, que é o estudo do coração. A válvula cardial é a válvula do coração.
A dúvida é: Não foi possível ver a calda ou cauda do cometa?
A resposta é: Não foi possível ver a cauda do cometa.
Cometa só teria calda se tivesse “rabinho doce”. Calda é uma solução açucarada: calda de caramelo, pêssegos em calda… Cauda é rabo, apêndice: cauda do macaco, piano de cauda, cauda do cometa…
Você sabe qual é a diferença entre animais capturados e animais apreendidos? Se o leão fugir do circo, os bombeiros serão chamados para capturá-lo; se alguém estiver vendendo micos-leões ali na esquina (o que é ilegal), o Ibama deve apreender os animais e a polícia prender os traficantes.
A dúvida é: É proibida, qualquer que seja ou quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos?
A resposta é: É proibida, quaisquer que sejam os motivos, a entrada de estranhos.
Qualquer é um pronome que deve concordar com o substantivo a que se refere: “quaisquer motivos”, “quaisquer problemas”, “quaisquer pessoas”… Em geral, o singular já é suficiente: “qualquer motivo”, “qualquer problema”, “qualquer pessoa”. Isso significa que também estaria correto: “É proibida, qualquer que seja o motivo, a entrada de estranhos”.
Na frase “Estou aqui para resolver todo e qualquer problema”, a expressão “todo e qualquer” é redundante. “Todo problema” significa “qualquer problema”. Bastaria dizer: “Estou aqui para resolver todo problema” ou “Estou aqui para resolver qualquer problema”. Como toda redundância, somente a ênfase justifica o seu uso.
Dúvidas dos leitores
qua, 01/09/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
A dúvida é: O jantar será na antivéspera ou antevéspera do Natal?
A resposta é: O jantar será na antevéspera do Natal.
Não devemos confundir os prefixos “anti” e “ante”. O prefixo “anti” tem o sentido de “oposição, contra”: antivírus, antiaéreo, antiético, anti-herói, antirrepublicano, antídoto, antítese… O prefixo “ante” significa “anterioridade”: anteontem, antepenúltimo, antevéspera, antediluviano… Não há “antivéspera”, porque o jantar não tem nada contra a véspera do Natal. O jantar será no dia que antecede a véspera do Natal, portanto na antevéspera.
Uma empresa carioca comunicou aos seus empregados: “A nossa ceia de Natal será na próxima quinta-feira, às 13h.” Acho muito bonito o fato de empresas oferecerem ceias de Natal aos seus empregados. Só fiquei preocupado com o horário. Se não me falha a memória, ceias sempre foram noturnas. Às 13h, é melhor fazer um almoço.
A dúvida é: Recebeu 1,2 bilhões ou bilhão de reais?
A resposta é: Recebeu 1,2 bilhão de reais.
Com muita frequência observamos, em nossos jornais e revistas, o uso dessas formas abreviadas para altos valores. Não há espaço para escrever por extenso e a quantidade de zeros poderia dificultar o entendimento do leitor. A abreviação é válida, mas merece cuidados, pois o milhão, bilhão, trilhão, etc. referem-se ao algarismo que antecede a vírgula. Assim sendo, o correto é “1,2 bilhão” porque significa “um bilhão e duzentos milhões; “1,3 milhão” significa “um milhão e trezentos mil”; “1,7 trilhão” significa “um trilhão e setecentos bilhões”.
A dúvida é: Aqui estão as cláusulas que faltavam ou faltava incluir no contrato?
A resposta é: Aqui estão as cláusulas que faltava incluir no contrato.
O verbo (= faltava) deve ficar no singular para concordar com o seu sujeito (= incluir no contrato). O que faltava era “incluir as cláusulas no contrato”, e não “as cláusulas”.
Qual é a sua opinião: “Falta ou Faltam cinco minutos para acabar o jogo”? Embora muitos digam que “falta cinco”, o certo é “faltam cinco minutos”. O verbo (= faltam) deve ir para o plural para concordar com o seu sujeito plural (= cinco minutos).
Não podemos, entretanto, confundir os casos. Em “Falta resolver cinco questões”, o verbo (= falta) deve ficar no singular porque o seu sujeito é “resolver cinco questões”. Não são as “cinco questões” que faltam. O que falta é resolver as cinco questões. Para ficar mais claro: “Faltam cinco questões” e “Falta resolver cinco questões”.
A dúvida é: A vitória significa ou significam três pontos decisivos para escapar do rebaixamento?
A resposta é: A vitória significa três pontos decisivos para escapar do rebaixamento.
Segundo a regra básica de concordância, o verbo deve concordar com o sujeito. No caso acima, o sujeito está no singular (=a vitória). Por causa disso, o verbo deve concordar no singular: “A vitória significa…”
Com o verbo ser, a história seria outra. O verbo ser é especial. Se o sujeito estiver no singular e predicativo do sujeito no plural, o verbo ser concordará no plural: “A vitória são as últimas esperanças do Botafogo”; “A maior revolta dos motoristas são as multas”; “A nossa maior alegria são as crianças”.
A dúvida é: A família só foi comunicada ou informada do sequestro uma semana depois?
A resposta é: A família só foi informada do sequestro uma semana depois.
O verbo comunicar é transitivo direto e indireto. Se alguém comunica, comunica alguma coisa a alguém. A coisa que se comunica é o objeto direto, e a pessoa a quem se comunica alguma coisa é o objeto indireto.
É importante lembrar que, de acordo com a gramática tradicional, só o objeto direto pode transformar-se em sujeito de voz passiva. Isso significa que somente a coisa (=objeto direto) pode ser comunicada, isto é, exercer a função do sujeito passivo. Assim sendo, é recomendável evitar o uso do verbo comunicar na voz passiva com sujeito “pessoa”. Estaria correto, portanto, dizer: “O sequestro só foi comunicado à família uma semana depois.” Vamos observar outro exemplo: “O empregado (pessoa) já foi comunicado (voz passiva) da sua demissão.” Melhor: “A demissão (coisa) já foi comunicada ao empregado.”
Não devemos confundir o verbo comunicar com o verbo informar. Embora sejam palavras sinônimas, o verbo informar apresenta duas regências possíveis: se alguém informa, informa alguma coisa a alguém ou informa alguém de alguma coisa. Quando informamos alguém de alguma coisa, a pessoa é o objeto direto. Pode, por isso, tornar-se sujeito passivo. Assim sendo, temos duas possibilidades: “A família (pessoa) só foi informada (voz passiva) do sequestro uma semana depois” e “O sequestro (coisa) só foi informado à família uma semana depois.”
A dúvida é: Ele teve participação sobre o ou no valor da venda do jogador?
A resposta é: Ele teve participação no valor da venda do jogador.
Ele não teve participação “sobre”, ou seja, “em cima do valor da venda”. Quem tem participação tem participação “em” alguma coisa, por isso é que “ele teve participação no valor da venda”.
Na frase “Entrou com um pedido junto à Vara de Execução Criminal”, encontramos o uso polêmico da locução “junto a”. Rigorosamente, “junto a” significa “ao lado de”. Assim sendo, o pedido teria entrado na Vara vizinha, e não na Vara de Execução Criminal. Para evitar confusões, é mais simples e claro dizer que “entrou com um pedido na Vara de Execução Criminal”. Devemos evitar construções pedantes do tipo: “O problema só será resolvido junto à direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo junto ao Bando Mundial”. Muito melhor é “O problema só será resolvido com a direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo no Banco Mundial”.
A resposta é: O jantar será na antevéspera do Natal.
Não devemos confundir os prefixos “anti” e “ante”. O prefixo “anti” tem o sentido de “oposição, contra”: antivírus, antiaéreo, antiético, anti-herói, antirrepublicano, antídoto, antítese… O prefixo “ante” significa “anterioridade”: anteontem, antepenúltimo, antevéspera, antediluviano… Não há “antivéspera”, porque o jantar não tem nada contra a véspera do Natal. O jantar será no dia que antecede a véspera do Natal, portanto na antevéspera.
Uma empresa carioca comunicou aos seus empregados: “A nossa ceia de Natal será na próxima quinta-feira, às 13h.” Acho muito bonito o fato de empresas oferecerem ceias de Natal aos seus empregados. Só fiquei preocupado com o horário. Se não me falha a memória, ceias sempre foram noturnas. Às 13h, é melhor fazer um almoço.
A dúvida é: Recebeu 1,2 bilhões ou bilhão de reais?
A resposta é: Recebeu 1,2 bilhão de reais.
Com muita frequência observamos, em nossos jornais e revistas, o uso dessas formas abreviadas para altos valores. Não há espaço para escrever por extenso e a quantidade de zeros poderia dificultar o entendimento do leitor. A abreviação é válida, mas merece cuidados, pois o milhão, bilhão, trilhão, etc. referem-se ao algarismo que antecede a vírgula. Assim sendo, o correto é “1,2 bilhão” porque significa “um bilhão e duzentos milhões; “1,3 milhão” significa “um milhão e trezentos mil”; “1,7 trilhão” significa “um trilhão e setecentos bilhões”.
A dúvida é: Aqui estão as cláusulas que faltavam ou faltava incluir no contrato?
A resposta é: Aqui estão as cláusulas que faltava incluir no contrato.
O verbo (= faltava) deve ficar no singular para concordar com o seu sujeito (= incluir no contrato). O que faltava era “incluir as cláusulas no contrato”, e não “as cláusulas”.
Qual é a sua opinião: “Falta ou Faltam cinco minutos para acabar o jogo”? Embora muitos digam que “falta cinco”, o certo é “faltam cinco minutos”. O verbo (= faltam) deve ir para o plural para concordar com o seu sujeito plural (= cinco minutos).
Não podemos, entretanto, confundir os casos. Em “Falta resolver cinco questões”, o verbo (= falta) deve ficar no singular porque o seu sujeito é “resolver cinco questões”. Não são as “cinco questões” que faltam. O que falta é resolver as cinco questões. Para ficar mais claro: “Faltam cinco questões” e “Falta resolver cinco questões”.
A dúvida é: A vitória significa ou significam três pontos decisivos para escapar do rebaixamento?
A resposta é: A vitória significa três pontos decisivos para escapar do rebaixamento.
Segundo a regra básica de concordância, o verbo deve concordar com o sujeito. No caso acima, o sujeito está no singular (=a vitória). Por causa disso, o verbo deve concordar no singular: “A vitória significa…”
Com o verbo ser, a história seria outra. O verbo ser é especial. Se o sujeito estiver no singular e predicativo do sujeito no plural, o verbo ser concordará no plural: “A vitória são as últimas esperanças do Botafogo”; “A maior revolta dos motoristas são as multas”; “A nossa maior alegria são as crianças”.
A dúvida é: A família só foi comunicada ou informada do sequestro uma semana depois?
A resposta é: A família só foi informada do sequestro uma semana depois.
O verbo comunicar é transitivo direto e indireto. Se alguém comunica, comunica alguma coisa a alguém. A coisa que se comunica é o objeto direto, e a pessoa a quem se comunica alguma coisa é o objeto indireto.
É importante lembrar que, de acordo com a gramática tradicional, só o objeto direto pode transformar-se em sujeito de voz passiva. Isso significa que somente a coisa (=objeto direto) pode ser comunicada, isto é, exercer a função do sujeito passivo. Assim sendo, é recomendável evitar o uso do verbo comunicar na voz passiva com sujeito “pessoa”. Estaria correto, portanto, dizer: “O sequestro só foi comunicado à família uma semana depois.” Vamos observar outro exemplo: “O empregado (pessoa) já foi comunicado (voz passiva) da sua demissão.” Melhor: “A demissão (coisa) já foi comunicada ao empregado.”
Não devemos confundir o verbo comunicar com o verbo informar. Embora sejam palavras sinônimas, o verbo informar apresenta duas regências possíveis: se alguém informa, informa alguma coisa a alguém ou informa alguém de alguma coisa. Quando informamos alguém de alguma coisa, a pessoa é o objeto direto. Pode, por isso, tornar-se sujeito passivo. Assim sendo, temos duas possibilidades: “A família (pessoa) só foi informada (voz passiva) do sequestro uma semana depois” e “O sequestro (coisa) só foi informado à família uma semana depois.”
A dúvida é: Ele teve participação sobre o ou no valor da venda do jogador?
A resposta é: Ele teve participação no valor da venda do jogador.
Ele não teve participação “sobre”, ou seja, “em cima do valor da venda”. Quem tem participação tem participação “em” alguma coisa, por isso é que “ele teve participação no valor da venda”.
Na frase “Entrou com um pedido junto à Vara de Execução Criminal”, encontramos o uso polêmico da locução “junto a”. Rigorosamente, “junto a” significa “ao lado de”. Assim sendo, o pedido teria entrado na Vara vizinha, e não na Vara de Execução Criminal. Para evitar confusões, é mais simples e claro dizer que “entrou com um pedido na Vara de Execução Criminal”. Devemos evitar construções pedantes do tipo: “O problema só será resolvido junto à direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo junto ao Bando Mundial”. Muito melhor é “O problema só será resolvido com a direção da empresa” e “Contraiu um empréstimo no Banco Mundial”.
Dúvidas dos leitores
qua, 25/08/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
A dúvida é: Ele é um aficionado ou aficcionado em ou por computador?
A resposta é: Ele é um aficionado por computador.
São dois problemas. O primeiro é de ortografia. Embora muita gente boa fale aficcionado, como se houvesse “cc”, os nossos bons dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, só registram a forma aficionado. O segundo problema é um erro de regência. Todo aficionado é aficionado por alguma coisa.
Caso semelhante ocorre com o verbo torcer. É comum ouvirmos: “Eu torço para o Internacional”, “Ele torce para o Palmeiras”, “Eles torcem para o Flamengo”… Pelo visto, estamos torcendo muito mal! Na verdade, “Eu torço pelo Internacional”, “Ele torce pelo Palmeiras”, “Eles torcem pelo Flamengo”…
A dúvida é: É uma substância cancerosa ou cancerígena?
A resposta é: É uma substância cancerígena.
Cancerosa e cancerígena são adjetivos, mas não são sinônimos. Não conheço substância que seja vítima de câncer. Infelizmente, há muitas substâncias que provocam, geram câncer: são as substâncias cancerígenas. Uma célula cancerosa é aquela que sofre de câncer, que tem câncer; uma célula cancerígena é aquela que provoca câncer.
O sufixo “-oso” significa “provido” e se escreve sempre com “s”. Aquilo que tem gosto é gostoso; o que tem sabor é saboroso; quem tem amor é amoroso; o que provoca apetite é apetitoso; o que tem gás é gasoso. Portanto, não existem “gasozo” nem “gazoso” muito menos “gazozo”.
A dúvida é: Todo ou Todo o homem tem valores intrínsecos ou intrínsicos?
A resposta é: Todo homem tem valores intrínsecos.
“Todo o homem” só se fosse “o homem inteiro”. Como a frase se refere a “qualquer homem”, a “todos os homens”, o pronome indefinido “todo” deve ser usado sem artigo definido: “todo homem”. Fazer “todo trabalho” é fazer “qualquer trabalho”; fazer “todo o trabalho” é fazer “o trabalho inteiro”. O uso do artigo definido após o pronome “todo” especifica o substantivo e o pronome “todo” passa a significar “inteiro”: “todo o país” é “o país inteiro”.
E os verdadeiros valores são intrínsecos. Valores “intrínsicos” nada valem e não existem.
Em “ele não fez nenhum gol siquer”, há um festival de incompetência. Primeiro foi o atacante que não fez o gol tão necessário para a vitória do seu time. Depois foi a vez de o jornalista exagerar na dose. Além da “tripla negativa” (não – nenhum – “siquer”), ainda temos a desgraça do “siquer”. O certo é “sequer”, e o seu uso já caracteriza um reforço de negativa. Bastava, portanto, dizer enfaticamente: “ele não fez um gol sequer” ou “ele não fez sequer um gol”.
A dúvida é: Trabalhou muito para fazer o seu pé de meia ou pé-de-meia?
A resposta é: Trabalhou muito para fazer o seu pé de meia.
Fazer um pé de meia, sem hífen, pode ser uma das peças que compõem o par de meias. Quando nos referimos às nossas economias, aquele dinheirinho que guardamos durante anos, estamos falando do nosso “pé-de-meia”, com hífen?
Assim era a regra antes do novo acordo ortográfico. Agora, palavras compostas com elemento de conexão só terão hífen se forem ligadas à zoologia e à botânica (joão-de-barro, copo-de-leite). Assim sendo, qualquer pé de meia deve ser grafado sem hífen.
Na linguagem falada, a frase “um papo de anjo é muito gostoso” pode criar dúvidas. Seria um docinho ou uma boa conversa com um anjo? Na escrita, havia diferença. Se fosse o doce, os hifens eram obrigatórios: “Comi um gostoso papo-de-anjo”; sem hifens, estaríamos nos referindo ao papo (=conversa) com algum anjo, mas essa distinção acabou.
Assim, segundo a última reforma ortográfica, todo papo de anjo deve ser escrito sem hífen.
A dúvida é: Buscou na acumpuntura ou acupuntura a solução para suas dores?
A resposta é: Buscou na acupuntura a solução para suas dores.
Acupuntura é um ramo da tradicional medicina chinesa. Consiste em introduzir agulhas em determinados pontos do corpo para tratar certas doenças ou provocar efeito anestésico. É uma palavra de origem latina formada pelos elementos acus (agulha) e punctura (picada).
O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras também registra a forma acupunctura.
É importante saber que já há registro no Vocabulário da ABL e em alguns bons dicionários de diversas palavras com dupla grafia. É o caso, por exemplo, de chipanzé ou chimpanzé e de cãibra ou câimbra. Mas não é o caso de “mortandela” e “mendingo”. Somente as formas mortadela e mendigo são aceitáveis.
A dúvida é: Quero saber porque ou por que o empregado foi demitido?
A resposta é: Quero saber por que o empregado foi demitido.
A palavra porque, em frases interrogativas, deve ser escrita separadamente: “Por que o empregado foi demitido?” O detalhe a ser observado é que existem dois tipos de perguntas: as diretas, que fazemos com ponto de interrogação e as indiretas, que fazemos com certos verbos: pergunto, indago, quero saber, gostaria de saber… Assim sendo, a frase “quero saber por que o empregado foi demitido” é uma pergunta indireta.
A pergunta poderia ser feita de outro modo: “Quero saber o porquê da sua demissão”. Nesse caso, embora seja uma frase interrogativa, a palavra porque está substantivada pelo artigo definido “o”. Quando isso ocorre, devemos escrever o porquê, junto e com acento circunflexo.
O acento gráfico se deve à regra das palavras oxítonas, que manda acentuar todas as terminadas em “a(s)”, “e(s)” e “o(s)”: sofá, atrás, café, você, português, o porquê (quando é substantivo), paletó, avô, após…
A resposta é: Ele é um aficionado por computador.
São dois problemas. O primeiro é de ortografia. Embora muita gente boa fale aficcionado, como se houvesse “cc”, os nossos bons dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, só registram a forma aficionado. O segundo problema é um erro de regência. Todo aficionado é aficionado por alguma coisa.
Caso semelhante ocorre com o verbo torcer. É comum ouvirmos: “Eu torço para o Internacional”, “Ele torce para o Palmeiras”, “Eles torcem para o Flamengo”… Pelo visto, estamos torcendo muito mal! Na verdade, “Eu torço pelo Internacional”, “Ele torce pelo Palmeiras”, “Eles torcem pelo Flamengo”…
A dúvida é: É uma substância cancerosa ou cancerígena?
A resposta é: É uma substância cancerígena.
Cancerosa e cancerígena são adjetivos, mas não são sinônimos. Não conheço substância que seja vítima de câncer. Infelizmente, há muitas substâncias que provocam, geram câncer: são as substâncias cancerígenas. Uma célula cancerosa é aquela que sofre de câncer, que tem câncer; uma célula cancerígena é aquela que provoca câncer.
O sufixo “-oso” significa “provido” e se escreve sempre com “s”. Aquilo que tem gosto é gostoso; o que tem sabor é saboroso; quem tem amor é amoroso; o que provoca apetite é apetitoso; o que tem gás é gasoso. Portanto, não existem “gasozo” nem “gazoso” muito menos “gazozo”.
A dúvida é: Todo ou Todo o homem tem valores intrínsecos ou intrínsicos?
A resposta é: Todo homem tem valores intrínsecos.
“Todo o homem” só se fosse “o homem inteiro”. Como a frase se refere a “qualquer homem”, a “todos os homens”, o pronome indefinido “todo” deve ser usado sem artigo definido: “todo homem”. Fazer “todo trabalho” é fazer “qualquer trabalho”; fazer “todo o trabalho” é fazer “o trabalho inteiro”. O uso do artigo definido após o pronome “todo” especifica o substantivo e o pronome “todo” passa a significar “inteiro”: “todo o país” é “o país inteiro”.
E os verdadeiros valores são intrínsecos. Valores “intrínsicos” nada valem e não existem.
Em “ele não fez nenhum gol siquer”, há um festival de incompetência. Primeiro foi o atacante que não fez o gol tão necessário para a vitória do seu time. Depois foi a vez de o jornalista exagerar na dose. Além da “tripla negativa” (não – nenhum – “siquer”), ainda temos a desgraça do “siquer”. O certo é “sequer”, e o seu uso já caracteriza um reforço de negativa. Bastava, portanto, dizer enfaticamente: “ele não fez um gol sequer” ou “ele não fez sequer um gol”.
A dúvida é: Trabalhou muito para fazer o seu pé de meia ou pé-de-meia?
A resposta é: Trabalhou muito para fazer o seu pé de meia.
Fazer um pé de meia, sem hífen, pode ser uma das peças que compõem o par de meias. Quando nos referimos às nossas economias, aquele dinheirinho que guardamos durante anos, estamos falando do nosso “pé-de-meia”, com hífen?
Assim era a regra antes do novo acordo ortográfico. Agora, palavras compostas com elemento de conexão só terão hífen se forem ligadas à zoologia e à botânica (joão-de-barro, copo-de-leite). Assim sendo, qualquer pé de meia deve ser grafado sem hífen.
Na linguagem falada, a frase “um papo de anjo é muito gostoso” pode criar dúvidas. Seria um docinho ou uma boa conversa com um anjo? Na escrita, havia diferença. Se fosse o doce, os hifens eram obrigatórios: “Comi um gostoso papo-de-anjo”; sem hifens, estaríamos nos referindo ao papo (=conversa) com algum anjo, mas essa distinção acabou.
Assim, segundo a última reforma ortográfica, todo papo de anjo deve ser escrito sem hífen.
A dúvida é: Buscou na acumpuntura ou acupuntura a solução para suas dores?
A resposta é: Buscou na acupuntura a solução para suas dores.
Acupuntura é um ramo da tradicional medicina chinesa. Consiste em introduzir agulhas em determinados pontos do corpo para tratar certas doenças ou provocar efeito anestésico. É uma palavra de origem latina formada pelos elementos acus (agulha) e punctura (picada).
O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras também registra a forma acupunctura.
É importante saber que já há registro no Vocabulário da ABL e em alguns bons dicionários de diversas palavras com dupla grafia. É o caso, por exemplo, de chipanzé ou chimpanzé e de cãibra ou câimbra. Mas não é o caso de “mortandela” e “mendingo”. Somente as formas mortadela e mendigo são aceitáveis.
A dúvida é: Quero saber porque ou por que o empregado foi demitido?
A resposta é: Quero saber por que o empregado foi demitido.
A palavra porque, em frases interrogativas, deve ser escrita separadamente: “Por que o empregado foi demitido?” O detalhe a ser observado é que existem dois tipos de perguntas: as diretas, que fazemos com ponto de interrogação e as indiretas, que fazemos com certos verbos: pergunto, indago, quero saber, gostaria de saber… Assim sendo, a frase “quero saber por que o empregado foi demitido” é uma pergunta indireta.
A pergunta poderia ser feita de outro modo: “Quero saber o porquê da sua demissão”. Nesse caso, embora seja uma frase interrogativa, a palavra porque está substantivada pelo artigo definido “o”. Quando isso ocorre, devemos escrever o porquê, junto e com acento circunflexo.
O acento gráfico se deve à regra das palavras oxítonas, que manda acentuar todas as terminadas em “a(s)”, “e(s)” e “o(s)”: sofá, atrás, café, você, português, o porquê (quando é substantivo), paletó, avô, após…
Dúvidas dos leitores
qua, 18/08/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
PONTUAÇÃO
ERRADO: “Avança Brasil.”
CERTO: “Avança, Brasil.”
Não devemos separar com vírgula o sujeito do seu predicado. No caso, o Brasil não é o sujeito do verbo avançar. Não se trata de uma frase afirmativa. O verbo está no imperativo. O Brasil é vocativo. Deve, por isso, ficar separado pela vírgula.
Observe a diferença que existe devido ao uso ou não da vírgula: 1ª) “Meu filho vem jantar em casa”; 2ª) “Meu filho, vem jantar em casa”. Na primeira frase, temos uma afirmação. “Meu filho” é o sujeito e o verbo (=vem) está no presente do indicativo. Na segunda, temos um chamamento. “Meu filho” é o vocativo e o verbo está no imperativo.
ERRADO: “O ex-técnico da seleção brasileira, Telê Santana, afirmou…”
CERTO: “O ex-técnico da seleção brasileira Telê Santana afirmou…”
Só devemos usar as vírgulas quando se trata de aposto explicativo. No caso “Telê Santana” não deve ser separado por vírgulas, porque é um aposto especificativo. Para distinguirmos o aposto explicativo do especificativo, podemos usar a seguinte “dica”: se for cargo não exclusivo (=ex-técnico da seleção brasileira existem muitos), é aposto especificativo (=sem vírgulas); se for cargo exclusivo, é aposto explicativo (com vírgulas). Observe a diferença: “O atual técnico da seleção brasileira, Dunga, afirmou…” (O atual técnico da seleção brasileira é só um, é cargo exclusivo). Vejamos outro exemplo: “O presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou…” (= existem outros presidentes); “O presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, afirmou…” (= presidente do Brasil é cargo exclusivo).
Na frase “O vice-presidente da Escola de Samba Tamos aqui, Zezé Pezinho, afirmou…”, surge uma dúvida: Zezé Pezinho é o único vice-presidente (= haveria vírgulas) ou a grande escola Tamos aqui tem dois ou mais vice-presidentes (= não haveria vírgulas). Em caso de dúvida, a melhor saída é inverter a posição dos termos da oração. Se escrevermos “Zezé Pezinho, vice-presidente da Escola de Samba Tamos aqui, afirmou…”, as vírgulas são obrigatórias. Sempre que o nome próprio vier antes, o título será um aposto explicativo e deverá ficar entre vírgulas.
ERRADO: “O homem que é um ser mortal deve respeitar a natureza.”
CERTO: “O homem, que é um ser mortal, deve respeitar a natureza.”
A oração grifada deve ficar entre vírgulas porque é subordinada adjetiva explicativa. Se fosse uma oração subordinada adjetiva restritiva não usaríamos as vírgulas: “O homem que trabalha vence na vida.” A diferença é que todo homem é um ser mortal (explicativa = com vírgula) e que nem todo homem trabalha (só o que trabalha vence na vida – restritiva = sem vírgula).
Em “O homem, que vinha a cavalo, caiu”, o uso das vírgulas (= oração subordinada adjetiva explicativa) informa que o homem caiu e explica que ele vinha a cavalo e sozinho (=não havia outros homens). Em “O homem que vinha a cavalo caiu”, a ausência das vírgulas (=oração subordinada adjetiva restritiva) altera o sentido da frase. Significa que havia outros homens e que aquele que vinha a cavalo caiu. Os outros provavelmente usavam outros meios de locomoção: de moto, de bicicleta, a pé, sobre jumentos, camelos… E não caíram.
ERRADO: Segura peão.
CERTO: Segura, peão.
A ausência da vírgula pode causar um incidente. Em vez de o peão segurar o touro, algum segurança desavisado pode querer ficar agarrado ao peão. Seria constrangedor! Sem a vírgula, o peão é o objeto do verbo segurar, ou seja, aquilo que deve ser segurado. É como se alguém mandasse segurar o peão. É o caso de “segura o touro”. Aqui temos a ordem correta para segurar o animal. Com a vírgula (“segura, peão”), peão passa a ser o vocativo, ou seja, agora é o peão que está recebendo a ordem de segurar… provavelmente o touro.
Se alguém gritar “pega ladrão”, não sobra um, meu irmão. Essa todos conhecem. É para pegar o ladrão, que é o objeto do verbo pegar. Perigo maior haveria se você gritasse “pega, ladrão”. Aí o ladrão vira vocativo e passa a ter o direito de pegar tudo que quiser.
ERRADO: “O diretor afirmou: não pensar em demissões.”
CERTO: “O diretor afirmou não pensar em demissões.”
O diretor pode não estar pensando em demissões, mas deveria pensar em dispensar os dois-pontos. Só precisaríamos dos dois-pontos se fosse discurso direto, ou seja, a transcrição da fala do diretor. Nesse caso haveria mudança no tempo do verbo: O diretor afirmou: “Não penso em demissões”.
Na frase O governador observou que: “as escolas merecem mais atenção”, temos uma grande salada. Ou usamos a conjunção “que” ou usamos os dois-pontos: O governador observou que as escolas merecem mais atenção ou O governador observou: “As escolas merecem mais atenção”. É interessante notar a sutil mudança de sentido do verbo observar.
ERRADO: “Avança Brasil.”
CERTO: “Avança, Brasil.”
Não devemos separar com vírgula o sujeito do seu predicado. No caso, o Brasil não é o sujeito do verbo avançar. Não se trata de uma frase afirmativa. O verbo está no imperativo. O Brasil é vocativo. Deve, por isso, ficar separado pela vírgula.
Observe a diferença que existe devido ao uso ou não da vírgula: 1ª) “Meu filho vem jantar em casa”; 2ª) “Meu filho, vem jantar em casa”. Na primeira frase, temos uma afirmação. “Meu filho” é o sujeito e o verbo (=vem) está no presente do indicativo. Na segunda, temos um chamamento. “Meu filho” é o vocativo e o verbo está no imperativo.
ERRADO: “O ex-técnico da seleção brasileira, Telê Santana, afirmou…”
CERTO: “O ex-técnico da seleção brasileira Telê Santana afirmou…”
Só devemos usar as vírgulas quando se trata de aposto explicativo. No caso “Telê Santana” não deve ser separado por vírgulas, porque é um aposto especificativo. Para distinguirmos o aposto explicativo do especificativo, podemos usar a seguinte “dica”: se for cargo não exclusivo (=ex-técnico da seleção brasileira existem muitos), é aposto especificativo (=sem vírgulas); se for cargo exclusivo, é aposto explicativo (com vírgulas). Observe a diferença: “O atual técnico da seleção brasileira, Dunga, afirmou…” (O atual técnico da seleção brasileira é só um, é cargo exclusivo). Vejamos outro exemplo: “O presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou…” (= existem outros presidentes); “O presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, afirmou…” (= presidente do Brasil é cargo exclusivo).
Na frase “O vice-presidente da Escola de Samba Tamos aqui, Zezé Pezinho, afirmou…”, surge uma dúvida: Zezé Pezinho é o único vice-presidente (= haveria vírgulas) ou a grande escola Tamos aqui tem dois ou mais vice-presidentes (= não haveria vírgulas). Em caso de dúvida, a melhor saída é inverter a posição dos termos da oração. Se escrevermos “Zezé Pezinho, vice-presidente da Escola de Samba Tamos aqui, afirmou…”, as vírgulas são obrigatórias. Sempre que o nome próprio vier antes, o título será um aposto explicativo e deverá ficar entre vírgulas.
ERRADO: “O homem que é um ser mortal deve respeitar a natureza.”
CERTO: “O homem, que é um ser mortal, deve respeitar a natureza.”
A oração grifada deve ficar entre vírgulas porque é subordinada adjetiva explicativa. Se fosse uma oração subordinada adjetiva restritiva não usaríamos as vírgulas: “O homem que trabalha vence na vida.” A diferença é que todo homem é um ser mortal (explicativa = com vírgula) e que nem todo homem trabalha (só o que trabalha vence na vida – restritiva = sem vírgula).
Em “O homem, que vinha a cavalo, caiu”, o uso das vírgulas (= oração subordinada adjetiva explicativa) informa que o homem caiu e explica que ele vinha a cavalo e sozinho (=não havia outros homens). Em “O homem que vinha a cavalo caiu”, a ausência das vírgulas (=oração subordinada adjetiva restritiva) altera o sentido da frase. Significa que havia outros homens e que aquele que vinha a cavalo caiu. Os outros provavelmente usavam outros meios de locomoção: de moto, de bicicleta, a pé, sobre jumentos, camelos… E não caíram.
ERRADO: Segura peão.
CERTO: Segura, peão.
A ausência da vírgula pode causar um incidente. Em vez de o peão segurar o touro, algum segurança desavisado pode querer ficar agarrado ao peão. Seria constrangedor! Sem a vírgula, o peão é o objeto do verbo segurar, ou seja, aquilo que deve ser segurado. É como se alguém mandasse segurar o peão. É o caso de “segura o touro”. Aqui temos a ordem correta para segurar o animal. Com a vírgula (“segura, peão”), peão passa a ser o vocativo, ou seja, agora é o peão que está recebendo a ordem de segurar… provavelmente o touro.
Se alguém gritar “pega ladrão”, não sobra um, meu irmão. Essa todos conhecem. É para pegar o ladrão, que é o objeto do verbo pegar. Perigo maior haveria se você gritasse “pega, ladrão”. Aí o ladrão vira vocativo e passa a ter o direito de pegar tudo que quiser.
ERRADO: “O diretor afirmou: não pensar em demissões.”
CERTO: “O diretor afirmou não pensar em demissões.”
O diretor pode não estar pensando em demissões, mas deveria pensar em dispensar os dois-pontos. Só precisaríamos dos dois-pontos se fosse discurso direto, ou seja, a transcrição da fala do diretor. Nesse caso haveria mudança no tempo do verbo: O diretor afirmou: “Não penso em demissões”.
Na frase O governador observou que: “as escolas merecem mais atenção”, temos uma grande salada. Ou usamos a conjunção “que” ou usamos os dois-pontos: O governador observou que as escolas merecem mais atenção ou O governador observou: “As escolas merecem mais atenção”. É interessante notar a sutil mudança de sentido do verbo observar.
Figuras semânticas
qua, 11/08/10
por Sérgio Nogueira |
categoria Dicas
B) Figuras semânticas (continuação)
8. Metonímia – é o emprego de uma palavra fora de seu significado básico por efeito de associação de ideias, que pode ser feita de várias maneiras:
a) parte pelo todo: “As velas sulcam os mares” (as naus, as embarcações); “As asas cortam os céus” (pássaros ou aviões); “Comprou cem cabeças de gado”, “Pediu-lhe a mão em casamento”;
b) autor pela obra: “Apreciamos um belo Di Cavalcanti” (quadro, pintura); “Sempre leu Machado” (obras de Machado de Assis);
c) continente pelo conteúdo (e vice-versa): “O macarrão estava tão bom que comemos dois pratos” (de macarrão); “Abrimos muitas cervejas” (garrafas de);
d) causa pelo efeito (e vice-versa): “Os cabelos brancos impõem respeito” (velhice); “Ganha o pão com o suor do seu rosto” (trabalho);
e) lugar pelo produto: “Bebemos um Porto saborosíssimo” (=vinho); “Fumavam um Havana legítimo” (charuto);
f) Instrumento pelo agente: “Ele é um bom garfo” (comilão); “Tratava-se de um grande volante” (piloto);
g) Matéria pelo objeto: “Os bronzes repicam no alto campanário” (sinos);
h) Sinal pela coisa significada: “Trono e altar, uni-vos” (estado e igreja); “A espada se curva diante da cruz”;
i) Abstrato pelo concreto: “O crime habitava naquela casa” (criminosos);
j) Singular pelo plural: “O inimigo cercou-lhe por todos os lados” (inimigos);
k) Cor pelo objeto: “O vermelho lhe corria nas veias” (sangue); “Voava pelo azul do Rio de Janeiro” (céu); “Pedi para chover, para o verde voltar”;
9. Antítese – é a valorização expressiva de uma ideia pela aproximação de palavras ou expressões que apresentam sentidos contrários: “Era o porvir – em frente do passado / A liberdade – em frente à escravidão” (Castro Alves); “Buscas a terra, eu os céus” (Olavo Bilac); “Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias” (Manuel Bandeira); “Até mesmo o pensamento da morte ainda é vida”; “Temo que qualquer longo tempo curto seja”;
10. Perífrase – consiste no emprego de toda uma expressão para substituir o nome de um objeto ou de uma pessoa: “O poeta dos escravos” (Castro Alves), “A cidade maravilhosa” (Rio de Janeiro), “O novo mundo” (América), “Creio no Supremo Criador do Universo” (Deus), “Amou o pai dos deuses (Júpiter) soberano” (Tomás Antônio Gonzaga);
C) Outras figuras e recursos expressivos:
1. Alusão – é a figura na qual se faz referência a um fato ou
personagem: “Começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka” (Fernando Sabino – Kafka: escritor, autor de Metamorfose = literatura do absurdo); “Instalava-se … o mais autêntico … Regime do Terror” (Fernando Sabino – Regime do Terror = governo francês na época da Revolução Francesa);
2. Apóstrofe – consiste na interpelação, na evocação às pessoas ou coisas personificadas como se estivessem presentes (=Vocativo): “Andrada! Arranca esse pendão do ares! / Colombo! Fecha a porta dos teus mares!” (Castro Alves); “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” (Castro Alves);
3. Gradação (Clímax e Anticlímax) – consiste no emprego de expressões sucessivas, para acumular efeitos expressivos, até alcançar culminância emocional; ou, ao contrário, visando à desvalorização:
Clímax = gradação ascendente: “O homem nasce, cresce, sofre e morre”; “…a urze…desabrocha / bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha” (Guerra Junqueira);
Anticlímax = gradação descendente: “Fugíamos do país, da cidade, do bairro, das pessoas”; “Te converta essa flor, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada” (Padre Vieira);
4. Ironia – consiste no emprego de palavras, expressões ou frases que, graças ao contexto ou à entonação, sugere coisas contrárias ao que significam literalmente: “Espiar a vida alheia,…depois de tantos anos, restam grandes vestígios desse belo hábito” (Manuel Antônio de Almeida); “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos” (Machado de Assis); “Cuido haver dito que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia” (Machado de Assis);
5. Paradoxo – consiste na reunião de ideias contraditórias num só pensamento: “Amor é fogo que arde sem se ver / É dor que desatina sem doer” (Camões); “É uma catedral horrível / Feita de pedras bonitas” (Mário de Andrade); “Nada! Esta só palavra em si resume tudo” (Aluísio de Azevedo); “Oh! Mundo encantador, tu és medonho!” (Fagundes Varela);
6. Enálage – consiste em dar a um tempo verbal uma aplicação diversa da que lhe é própria: “Que fora o claro se não fora o escuro” (seria – fosse); “Se dás um passo, morres” (deres – morrerás); “Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse também não adiantava (adiantaria)…” (Guimarães Rosa);
7. Aliteração – consiste na repetição de fonemas, ou grupos de fonemas consonantais em frases ou versos: “A procissão cicia uma prece” (/ce/); “Que a brisa do Brasil beija e balança” (/be/) (Casimiro de Abreu); “Replicava aos surdos roncos do trovão bravio” (/re/) (Castro Alves); Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas vagam pelos velhos vértices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas” (/ve/) (Cruz e Souza);
8. Onomatopeia – consiste no emprego de palavras ou expressões cuja impressão sonora procura reproduzir sons da natureza: “Sino de Belém bate bem-bem-bem” (Manuel Bandeira); “Ringe e range a rígida moenda / E ringindo e rangendo, a cana a triturar”; “Agora sim / café com pão / Agora sim / Voa, fumaça / Corre, cerca / Ai, seu foguista / Bota fogo / Na fornalha / que eu preciso / Muita força / Muita força / Muita força” (Manuel Bandeira).
8. Metonímia – é o emprego de uma palavra fora de seu significado básico por efeito de associação de ideias, que pode ser feita de várias maneiras:
a) parte pelo todo: “As velas sulcam os mares” (as naus, as embarcações); “As asas cortam os céus” (pássaros ou aviões); “Comprou cem cabeças de gado”, “Pediu-lhe a mão em casamento”;
b) autor pela obra: “Apreciamos um belo Di Cavalcanti” (quadro, pintura); “Sempre leu Machado” (obras de Machado de Assis);
c) continente pelo conteúdo (e vice-versa): “O macarrão estava tão bom que comemos dois pratos” (de macarrão); “Abrimos muitas cervejas” (garrafas de);
d) causa pelo efeito (e vice-versa): “Os cabelos brancos impõem respeito” (velhice); “Ganha o pão com o suor do seu rosto” (trabalho);
e) lugar pelo produto: “Bebemos um Porto saborosíssimo” (=vinho); “Fumavam um Havana legítimo” (charuto);
f) Instrumento pelo agente: “Ele é um bom garfo” (comilão); “Tratava-se de um grande volante” (piloto);
g) Matéria pelo objeto: “Os bronzes repicam no alto campanário” (sinos);
h) Sinal pela coisa significada: “Trono e altar, uni-vos” (estado e igreja); “A espada se curva diante da cruz”;
i) Abstrato pelo concreto: “O crime habitava naquela casa” (criminosos);
j) Singular pelo plural: “O inimigo cercou-lhe por todos os lados” (inimigos);
k) Cor pelo objeto: “O vermelho lhe corria nas veias” (sangue); “Voava pelo azul do Rio de Janeiro” (céu); “Pedi para chover, para o verde voltar”;
9. Antítese – é a valorização expressiva de uma ideia pela aproximação de palavras ou expressões que apresentam sentidos contrários: “Era o porvir – em frente do passado / A liberdade – em frente à escravidão” (Castro Alves); “Buscas a terra, eu os céus” (Olavo Bilac); “Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias” (Manuel Bandeira); “Até mesmo o pensamento da morte ainda é vida”; “Temo que qualquer longo tempo curto seja”;
10. Perífrase – consiste no emprego de toda uma expressão para substituir o nome de um objeto ou de uma pessoa: “O poeta dos escravos” (Castro Alves), “A cidade maravilhosa” (Rio de Janeiro), “O novo mundo” (América), “Creio no Supremo Criador do Universo” (Deus), “Amou o pai dos deuses (Júpiter) soberano” (Tomás Antônio Gonzaga);
C) Outras figuras e recursos expressivos:
1. Alusão – é a figura na qual se faz referência a um fato ou
personagem: “Começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka” (Fernando Sabino – Kafka: escritor, autor de Metamorfose = literatura do absurdo); “Instalava-se … o mais autêntico … Regime do Terror” (Fernando Sabino – Regime do Terror = governo francês na época da Revolução Francesa);
2. Apóstrofe – consiste na interpelação, na evocação às pessoas ou coisas personificadas como se estivessem presentes (=Vocativo): “Andrada! Arranca esse pendão do ares! / Colombo! Fecha a porta dos teus mares!” (Castro Alves); “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” (Castro Alves);
3. Gradação (Clímax e Anticlímax) – consiste no emprego de expressões sucessivas, para acumular efeitos expressivos, até alcançar culminância emocional; ou, ao contrário, visando à desvalorização:
Clímax = gradação ascendente: “O homem nasce, cresce, sofre e morre”; “…a urze…desabrocha / bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha” (Guerra Junqueira);
Anticlímax = gradação descendente: “Fugíamos do país, da cidade, do bairro, das pessoas”; “Te converta essa flor, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada” (Padre Vieira);
4. Ironia – consiste no emprego de palavras, expressões ou frases que, graças ao contexto ou à entonação, sugere coisas contrárias ao que significam literalmente: “Espiar a vida alheia,…depois de tantos anos, restam grandes vestígios desse belo hábito” (Manuel Antônio de Almeida); “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos” (Machado de Assis); “Cuido haver dito que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia” (Machado de Assis);
5. Paradoxo – consiste na reunião de ideias contraditórias num só pensamento: “Amor é fogo que arde sem se ver / É dor que desatina sem doer” (Camões); “É uma catedral horrível / Feita de pedras bonitas” (Mário de Andrade); “Nada! Esta só palavra em si resume tudo” (Aluísio de Azevedo); “Oh! Mundo encantador, tu és medonho!” (Fagundes Varela);
6. Enálage – consiste em dar a um tempo verbal uma aplicação diversa da que lhe é própria: “Que fora o claro se não fora o escuro” (seria – fosse); “Se dás um passo, morres” (deres – morrerás); “Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse também não adiantava (adiantaria)…” (Guimarães Rosa);
7. Aliteração – consiste na repetição de fonemas, ou grupos de fonemas consonantais em frases ou versos: “A procissão cicia uma prece” (/ce/); “Que a brisa do Brasil beija e balança” (/be/) (Casimiro de Abreu); “Replicava aos surdos roncos do trovão bravio” (/re/) (Castro Alves); Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas vagam pelos velhos vértices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas” (/ve/) (Cruz e Souza);
8. Onomatopeia – consiste no emprego de palavras ou expressões cuja impressão sonora procura reproduzir sons da natureza: “Sino de Belém bate bem-bem-bem” (Manuel Bandeira); “Ringe e range a rígida moenda / E ringindo e rangendo, a cana a triturar”; “Agora sim / café com pão / Agora sim / Voa, fumaça / Corre, cerca / Ai, seu foguista / Bota fogo / Na fornalha / que eu preciso / Muita força / Muita força / Muita força” (Manuel Bandeira).
Figuras de estilo
qua, 04/08/10
por Sérgio Nogueira |
categoria Dicas
FIGURA é um desvio linguístico. É o afastamento do valor linguístico normalmente aceito; assume, assim, um novo aspecto para um fim expressivo.
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.
A) Figuras sintáticas (continuação):
11. Anáfora – é a repetição de um elemento no início de cada frase: “Tudo é silêncio, tudo calma, tudo mudez” (Olavo Bilac); “Terra da castanha, terra da borracha, terra de beribá, bacuri, sapoti” (Manuel Bandeira); “Talvez cruze a pena e beba, talvez corte figurinhas, talvez fume piteira, talvez ria, talvez minta” (Carlos Drummond de Andrade);
12. Paralelismo – é a sequência de construções simétricas: “Compra, vende, aluga, financia” (=todos são verbos); “Compra, venda, aluguel, financiamento” (=todos são substantivos);
a) Paralelismo sintático (apresenta a mesma estrutura sintática):
“Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos pó que anda, os mortos pó que jaz” (Padre Vieira); “Que calmo o céu! Que verde o mar!” (Olavo Bilac);
b) Paralelismo antitético (apresenta, além do paralelismo, uma
oposição): “…para tão longo amor tão curta vida” (Camões); “Longas são as estradas da Galileia e curta a piedade dos homens” (Eça de Queirós);
13. Quiasmo – é o paralelismo em que os elementos da segunda construção estão em ordem contrária aos da primeira. É uma inversão sob a forma de xis: “Vinhas fatigada e triste. Triste e fatigado eu vinha” (Olavo Bilac); “Aurélia sentia-se vingada, humilhado sentia-se Fernando” (José de Alencar); “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho” (Carlos Drummond de Andrade); “Que eu me liberte das ânsias / De ansiedades me liberte” (Cruz e Souza); “Prolixo no falar, em respirar sucinto”; “Vagaroso no fazer, no reclamar ligeiro”; “Já não pode fumar, cuspir já não pode”;
B) Figuras semânticas:
1. Metáfora – é o emprego de uma palavra fora do seu
significado básico por efeito de uma semelhança. Resulta, portanto, de uma comparação em que os elementos comparativos não aparecem: “Esta senhora é uma santa” (=é boa como uma santa); “No dia seguinte com o brotar da aurora” (Mário de Andrade) (=a aurora parece que brota; a aurora nasce como brota uma flor); “…morrer…quando este mundo é um paraíso…” (Castro Alves) (=o mundo é como se fosse um paraíso);
2. Comparação ou Símile – consiste no confronto das qualidades ações dos seres, com a presença dos elementos comparativos: “Respira a alma inocência como perfumes a flor” (Casimiro de Abreu); “A via Láctea se desenrolava como um jorro de lágrimas ardentes” (Olavo Bilac); “Ver minh’alma adejar pelo infinito, qual branca vela n’amplidão dos mares” (Castro Alves); “Iracema (…) que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna” (José de Alencar);
3. Prosopopeia ou Personificação – consiste na atribuição de qualidades, ações e atitudes humanas a seres não humanos: “A lua olhava com inveja o casal de namorados”; “Chorava a flor e gemia, branca, branca de terror”; “As ondas beijavam as areias da praia”; “Poderíamos, no ermo, sentir os primeiros passos da noite” (Augusto Frederico Schimidt);
4. Hipérbole – consiste no exagero de uma ideia e assim conseguir maior expressividade para enfatizar determinada situação: “Já te disse mil vezes”; “Fez tudo num piscar de olhos”; “Vai explodir de tanto comer”; “Rios te correrão dos olhos se chorares”; “Roma inteira nadava no sangue de seus filhos”; “Teus ombros suportam o mundo” (Carlos Drummond de Andrade);
5. Catacrese – é um tipo de metáfora ocasionada por:
a) falta de uma palavra específica: “pé da mesa”; “boca do
estômago”; “céu da boca”; “orelha do livro”; “dente de alho”; “barriga ou batata da perna”; “olho da agulha”; “De uma cruz ao longe os braços, vejo abrirem-se” (Castro Alves);
b) esquecimento etimológico (=queda do sentido original da
palavra): salário (de sal), secretária (de secreto), sabatinar (de sábado), tratante (de tratar), famigerado (de fama), marginal (de margem), rival (de rio);
6. Sinestesia – consiste na mistura de sensações: “Ouviu palavras amargas da mãe” (audição e gustação); “À distância as vozes macias das meninas politonavam” (Manuel Bandeira – audição e tato); “A cor cantava-me nos olhos…” (visão e audição); “É uma sombra verde, macia e vã” (visão e tato); “Aroma, cor e som das ladainhas” (Cruz e Souza – olfato, visão e audição);
7. Eufemismo – consiste no emprego de uma expressão para suavizar ideia desagradável, chocante ou grosseira: “Entregou a alma ao Criador” (morreu); “Levamos-te ao teu último endereço” (túmulo, cemitério); “Era incapaz de apropriar-se do alheio” (roubar); “Ele restituiu tudo que comera no jantar” (vomitou); “Só dizia inverdades” (mentia);”Quando a indesejada das gentes (= a morte) chegar” (Manuel Bandeira).
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.
A) Figuras sintáticas (continuação):
11. Anáfora – é a repetição de um elemento no início de cada frase: “Tudo é silêncio, tudo calma, tudo mudez” (Olavo Bilac); “Terra da castanha, terra da borracha, terra de beribá, bacuri, sapoti” (Manuel Bandeira); “Talvez cruze a pena e beba, talvez corte figurinhas, talvez fume piteira, talvez ria, talvez minta” (Carlos Drummond de Andrade);
12. Paralelismo – é a sequência de construções simétricas: “Compra, vende, aluga, financia” (=todos são verbos); “Compra, venda, aluguel, financiamento” (=todos são substantivos);
a) Paralelismo sintático (apresenta a mesma estrutura sintática):
“Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos pó que anda, os mortos pó que jaz” (Padre Vieira); “Que calmo o céu! Que verde o mar!” (Olavo Bilac);
b) Paralelismo antitético (apresenta, além do paralelismo, uma
oposição): “…para tão longo amor tão curta vida” (Camões); “Longas são as estradas da Galileia e curta a piedade dos homens” (Eça de Queirós);
13. Quiasmo – é o paralelismo em que os elementos da segunda construção estão em ordem contrária aos da primeira. É uma inversão sob a forma de xis: “Vinhas fatigada e triste. Triste e fatigado eu vinha” (Olavo Bilac); “Aurélia sentia-se vingada, humilhado sentia-se Fernando” (José de Alencar); “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho” (Carlos Drummond de Andrade); “Que eu me liberte das ânsias / De ansiedades me liberte” (Cruz e Souza); “Prolixo no falar, em respirar sucinto”; “Vagaroso no fazer, no reclamar ligeiro”; “Já não pode fumar, cuspir já não pode”;
B) Figuras semânticas:
1. Metáfora – é o emprego de uma palavra fora do seu
significado básico por efeito de uma semelhança. Resulta, portanto, de uma comparação em que os elementos comparativos não aparecem: “Esta senhora é uma santa” (=é boa como uma santa); “No dia seguinte com o brotar da aurora” (Mário de Andrade) (=a aurora parece que brota; a aurora nasce como brota uma flor); “…morrer…quando este mundo é um paraíso…” (Castro Alves) (=o mundo é como se fosse um paraíso);
2. Comparação ou Símile – consiste no confronto das qualidades ações dos seres, com a presença dos elementos comparativos: “Respira a alma inocência como perfumes a flor” (Casimiro de Abreu); “A via Láctea se desenrolava como um jorro de lágrimas ardentes” (Olavo Bilac); “Ver minh’alma adejar pelo infinito, qual branca vela n’amplidão dos mares” (Castro Alves); “Iracema (…) que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna” (José de Alencar);
3. Prosopopeia ou Personificação – consiste na atribuição de qualidades, ações e atitudes humanas a seres não humanos: “A lua olhava com inveja o casal de namorados”; “Chorava a flor e gemia, branca, branca de terror”; “As ondas beijavam as areias da praia”; “Poderíamos, no ermo, sentir os primeiros passos da noite” (Augusto Frederico Schimidt);
4. Hipérbole – consiste no exagero de uma ideia e assim conseguir maior expressividade para enfatizar determinada situação: “Já te disse mil vezes”; “Fez tudo num piscar de olhos”; “Vai explodir de tanto comer”; “Rios te correrão dos olhos se chorares”; “Roma inteira nadava no sangue de seus filhos”; “Teus ombros suportam o mundo” (Carlos Drummond de Andrade);
5. Catacrese – é um tipo de metáfora ocasionada por:
a) falta de uma palavra específica: “pé da mesa”; “boca do
estômago”; “céu da boca”; “orelha do livro”; “dente de alho”; “barriga ou batata da perna”; “olho da agulha”; “De uma cruz ao longe os braços, vejo abrirem-se” (Castro Alves);
b) esquecimento etimológico (=queda do sentido original da
palavra): salário (de sal), secretária (de secreto), sabatinar (de sábado), tratante (de tratar), famigerado (de fama), marginal (de margem), rival (de rio);
6. Sinestesia – consiste na mistura de sensações: “Ouviu palavras amargas da mãe” (audição e gustação); “À distância as vozes macias das meninas politonavam” (Manuel Bandeira – audição e tato); “A cor cantava-me nos olhos…” (visão e audição); “É uma sombra verde, macia e vã” (visão e tato); “Aroma, cor e som das ladainhas” (Cruz e Souza – olfato, visão e audição);
7. Eufemismo – consiste no emprego de uma expressão para suavizar ideia desagradável, chocante ou grosseira: “Entregou a alma ao Criador” (morreu); “Levamos-te ao teu último endereço” (túmulo, cemitério); “Era incapaz de apropriar-se do alheio” (roubar); “Ele restituiu tudo que comera no jantar” (vomitou); “Só dizia inverdades” (mentia);”Quando a indesejada das gentes (= a morte) chegar” (Manuel Bandeira).
Figuras de estilo
qua, 28/07/10
por Sérgio Nogueira |
categoria Dicas
FIGURA é um desvio linguístico. É o afastamento do valor linguístico normalmente aceito; assume, assim, um novo aspecto para um fim expressivo.
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.
A) Figuras sintáticas:
1. Silepse – é aquela em que o determinante concorda com o
determinado segundo a ideia que está subentendida, e não de acordo com a lógica gramatical:
a) Silepse de gênero: “Vossa Majestade (feminino) é justo e bom
(masculino); “A gente (feminino) às vezes é obrigado (masculino) a confessar que errou”;
b) Silepse de número: “O povo (singular) corria para todos os lados
e gritavam alucinados (plural)”; “Percorria as ruas muita gente (singular) com lanternas. Tocavam e dançavam (plural)” (Jorge de Lima);
c) Silepse de gênero e de número: “A torcida (feminino, singular)
reclamava. Gritavam exaltados (masculino, plural)”; “Aquela gente (feminino, singular) toda ali, apavorados (masculino, plural)”;
d) Silepse de pessoa: “Todos (3a. pessoa) decidimos (1a. pessoa)
adiar as provas”; “Os portugueses (3ª. pessoa) somos (1a. pessoa) do Ocidente” (Camões);
2. Hipálage – figura pela qual se dá realce a um determinante,
associando-o a um termo que não é logicamente o seu correspondente determinado, assim se criando um sintagma inesperado (Mattoso Câmara):
a) “Vou subir a ladeira lenta” (Carlos Drummond de Andrade) – (lento sou eu e não a ladeira);
“E atravessou a rua com seu passo bêbado” (Chico Buarque de
Holanda) – (bêbada estava a pessoa e não o passo);
“Adélia fumava um cigarro lânguido” (Eça de Queirós) –
(lânguida é Adélia e não o cigarro);
“A beleza satânica da mulher aterrorizou Fernando” (José de
Alencar) – (satânica é a mulher);
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” (Machado de Assis) – (oblíquos são os olhos);
3. Elipse – é a omissão de um termo que pode ser subentendido pelo contexto:
“O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas” (José de Alencar) – (o sol deitava-se); “Acordei e não vi nada” (Tomás Antônio Gonzaga) – (Eu acordei e eu não vi nada);
Zeugma – é a elipse de um termo nomeado anteriormente com forma diferente: “Ele não nos entende nem nós a ele” (nem nós entendemos a ele); “Tu buscas a Terra e eu, os céus” (eu busco os céus);
4. Pleonasmo – é o emprego de palavras ou expressões que repetem o conteúdo significativo de um termo já existente, para enfatizar uma ideia ou para evitar ambiguidade:
a) Pleonasmo de ideia: “Lutavam uma luta inglória”; “Vi com meus
próprios olhos”;
b) Pleonasmo de função: “O jogo, disse que ele será fácil” (sujeito
pleonástico); “O ato do vizinho é muito mais importante do que lhe parece a ele” (Carlos Drummond de Andrade) – (objeto indireto pleonástico);
c) Pleonasmo vicioso: subir para cima, hemorragia de sangue, elo
de ligação, planejamento antecipado, adiar para depois, encarar de frente, duas metades iguais, surpresas inesperadas…
5. Anacoluto – é a quebra da estrutura sintática de forma que um elemento fique sem função sintática: “Ele, por exemplo, que teria dito dele o finado?“ (Machado de Assis); “Eu, parece-me que sim; pelo menos nada conheço que…” (Mário de Sá Carneiro);
6. Braquilogia – é o emprego de uma expressão mais curta em substituição a outra mais complexa: “Entrava e saía da sala” (entrava na sala e saía dela = da sala); “Contou tudo que ocorreu antes, durante e depois da reunião” (antes da reunião, durante a reunião, depois da reunião); “O dentista arrancou-lhe um canino” (um dente canino);
7. Inversão – é a colocação dos elementos da frase fora da sua ordem lógica: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante” (As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico); “Que importa de um nauta o berço?” (Que importa o berço de um nauta?); “Imenso trabalho nos custa a flor” (A flor nos custa imenso trabalho);
8. Antecipação ou Prolepse – é a colocação de um termo de uma oração na anterior: “Os livros dizem / que são bons” (Dizem / que os livros são bons); “O vigia foi ver as portas / se estavam fechadas” (O vigia foi ver / se as portas estavam fechadas); “A casa de Davi é certo / que foi fundada pelo verdadeiro Deus” (Padre Vieira) (É certo / que a casa de Davi foi fundada pelo verdadeiro Deus);
9. Assíndeto – é a omissão do conectivo coordenativo: “Vim, vi, venci” (=Vim, (e) vi, (e) venci); “A multidão agitou-se, murmurou, bradou, ameaçou” (= …agitou-se, (e) murmurou, (e) bradou, (e) ameaçou); “Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas, o ídolo dos noivos em disponibilidade” (José de Alencar);
10. Polissíndeto – é a repetição do conectivo coordenativo: “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua” (Olavo Bilac); “E os olhos não choram. E as mãos não tecem… E o coração está seco” (Carlos Drummond de Andrade).
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.
A) Figuras sintáticas:
1. Silepse – é aquela em que o determinante concorda com o
determinado segundo a ideia que está subentendida, e não de acordo com a lógica gramatical:
a) Silepse de gênero: “Vossa Majestade (feminino) é justo e bom
(masculino); “A gente (feminino) às vezes é obrigado (masculino) a confessar que errou”;
b) Silepse de número: “O povo (singular) corria para todos os lados
e gritavam alucinados (plural)”; “Percorria as ruas muita gente (singular) com lanternas. Tocavam e dançavam (plural)” (Jorge de Lima);
c) Silepse de gênero e de número: “A torcida (feminino, singular)
reclamava. Gritavam exaltados (masculino, plural)”; “Aquela gente (feminino, singular) toda ali, apavorados (masculino, plural)”;
d) Silepse de pessoa: “Todos (3a. pessoa) decidimos (1a. pessoa)
adiar as provas”; “Os portugueses (3ª. pessoa) somos (1a. pessoa) do Ocidente” (Camões);
2. Hipálage – figura pela qual se dá realce a um determinante,
associando-o a um termo que não é logicamente o seu correspondente determinado, assim se criando um sintagma inesperado (Mattoso Câmara):
a) “Vou subir a ladeira lenta” (Carlos Drummond de Andrade) – (lento sou eu e não a ladeira);
“E atravessou a rua com seu passo bêbado” (Chico Buarque de
Holanda) – (bêbada estava a pessoa e não o passo);
“Adélia fumava um cigarro lânguido” (Eça de Queirós) –
(lânguida é Adélia e não o cigarro);
“A beleza satânica da mulher aterrorizou Fernando” (José de
Alencar) – (satânica é a mulher);
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” (Machado de Assis) – (oblíquos são os olhos);
3. Elipse – é a omissão de um termo que pode ser subentendido pelo contexto:
“O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas” (José de Alencar) – (o sol deitava-se); “Acordei e não vi nada” (Tomás Antônio Gonzaga) – (Eu acordei e eu não vi nada);
Zeugma – é a elipse de um termo nomeado anteriormente com forma diferente: “Ele não nos entende nem nós a ele” (nem nós entendemos a ele); “Tu buscas a Terra e eu, os céus” (eu busco os céus);
4. Pleonasmo – é o emprego de palavras ou expressões que repetem o conteúdo significativo de um termo já existente, para enfatizar uma ideia ou para evitar ambiguidade:
a) Pleonasmo de ideia: “Lutavam uma luta inglória”; “Vi com meus
próprios olhos”;
b) Pleonasmo de função: “O jogo, disse que ele será fácil” (sujeito
pleonástico); “O ato do vizinho é muito mais importante do que lhe parece a ele” (Carlos Drummond de Andrade) – (objeto indireto pleonástico);
c) Pleonasmo vicioso: subir para cima, hemorragia de sangue, elo
de ligação, planejamento antecipado, adiar para depois, encarar de frente, duas metades iguais, surpresas inesperadas…
5. Anacoluto – é a quebra da estrutura sintática de forma que um elemento fique sem função sintática: “Ele, por exemplo, que teria dito dele o finado?“ (Machado de Assis); “Eu, parece-me que sim; pelo menos nada conheço que…” (Mário de Sá Carneiro);
6. Braquilogia – é o emprego de uma expressão mais curta em substituição a outra mais complexa: “Entrava e saía da sala” (entrava na sala e saía dela = da sala); “Contou tudo que ocorreu antes, durante e depois da reunião” (antes da reunião, durante a reunião, depois da reunião); “O dentista arrancou-lhe um canino” (um dente canino);
7. Inversão – é a colocação dos elementos da frase fora da sua ordem lógica: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante” (As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico); “Que importa de um nauta o berço?” (Que importa o berço de um nauta?); “Imenso trabalho nos custa a flor” (A flor nos custa imenso trabalho);
8. Antecipação ou Prolepse – é a colocação de um termo de uma oração na anterior: “Os livros dizem / que são bons” (Dizem / que os livros são bons); “O vigia foi ver as portas / se estavam fechadas” (O vigia foi ver / se as portas estavam fechadas); “A casa de Davi é certo / que foi fundada pelo verdadeiro Deus” (Padre Vieira) (É certo / que a casa de Davi foi fundada pelo verdadeiro Deus);
9. Assíndeto – é a omissão do conectivo coordenativo: “Vim, vi, venci” (=Vim, (e) vi, (e) venci); “A multidão agitou-se, murmurou, bradou, ameaçou” (= …agitou-se, (e) murmurou, (e) bradou, (e) ameaçou); “Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas, o ídolo dos noivos em disponibilidade” (José de Alencar);
10. Polissíndeto – é a repetição do conectivo coordenativo: “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua” (Olavo Bilac); “E os olhos não choram. E as mãos não tecem… E o coração está seco” (Carlos Drummond de Andrade).
Figuras de estilo
qua, 21/07/10
por Sérgio Nogueira |
categoria Dicas
Texto 3
O exagero das hipérboles
A hipérbole é uma “metáfora exagerada”.
Existem exemplos famosos como “chorou rios de lágrimas” e outras bem populares: “já te disse mil vezes”; “explodiu de tanto comer”; “fez tudo num piscar de olhos”…
Leitor atento quer saber se eu considero claras as frases: “o total de manifestantes era equivalente ao de dois Maracanãs lotados” e “com esse dinheiro daria para comprar cinco apartamentos na Vieira Souto”.
Concordo com o nosso leitor. Não são comparações claras. No caso do Maracanã, nunca sei se o gramado está incluído como acontece em shows ou eventos especiais. Pior é o caso dos apartamentos da Vieira Souto. Juro que não sei exatamente o seu valor. É só consultar a seção de classificados dos nossos jornais para constatar que a variedade dos preços é grande.
O que fica é uma ideia imprecisa. Temos apenas uma certeza: é muita gente e muito dinheiro.
Prefiro outros tipos de comparação: “com esse dinheiro daria para construir dois hospitais”; “com esse dinheiro daria para pagar o 13º dos servidores”… Dessa forma, parece que o leitor teria uma maior compreensão do fato, não quanto aos valores, mas certamente teria uma ideia melhor da sua perda.
Em todo caso, é sempre bom evitarmos comparações exageradas e de difícil compreensão.
Vamos, então, fazer um teste final: um escritório em que caberiam vinte milhões de caixinhas de fósforo é grande ou pequeno?
Texto 4
A catacrese e a catapulta
O elemento de origem grega “cata” significa “para baixo”. Deve ser por isso que você nunca viu uma catarata jogando água “para cima”. Catarata é uma queda d’água.
Quem já assistiu a filmes que retratam guerras medievais deve ter visto uma catapulta em ação. Era uma arma de combate usada como alavanca para jogar bolas de fogo ou pedras por cima dos muros dos castelos.
Outro dia, lendo um artigo sobre música popular, encontrei esta pérola: “Foi esta música que catapultou a banda para a fila do gargarejo da MPB”. Fico imaginando qual tenha sido a interpretação do leitor que não tem a mínima ideia do que seja uma catapulta. Para quem ainda não entendeu, o crítico queria dizer que a tal música fez tanto sucesso que levou repentinamente a tal banda para os primeiros lugares das paradas de sucesso da nossa música popular.
E o que a catacrese tem a ver com tudo isso?
Catacrese é o nome que se dá para aquela metáfora que deixou de ser metáfora, que perdeu seu sentido figurado. É a “queda” da metáfora. Catacrese é a “metáfora fossilizada”.
Para ficar mais claro, vejamos alguns exemplos.
O alho não é dente nem nunca teve um dentinho sequer, mas você sabe qual é o nome do “dente de alho”? É dente de alho mesmo. Isso não significa que um conjunto de dentes de alho forme uma “dentadura”.
Você já viu estrelas no “céu da boca”? E umbigo na “barriga da perna”? E mamilos no “peito do pé”?
É interessante observar que a criação é metafórica, pois é feita a partir de uma comparação por semelhança.
A panturrilha é também chamada de “barriga da perna” por sua semelhança com uma barriga. Tanto é verdade que outros acham a panturrilha parecida com uma batata. Daí a “batata da perna”.
Para terminar, uma lista de catacreses: olho da agulha, cabeça do alfinete, perna da cadeira ou da mesa, cabelo do milho, boca do estômago, braço do sofá…
Resumindo:
Hipérbole – consiste no exagero de uma ideia e assim conseguir maior expressividade para enfatizar determinada situação: “Já te disse mil vezes”; “Fez tudo num piscar de olhos”; “Vai explodir de tanto comer”; “Rios te correrão dos olhos se chorares”; “Roma inteira nadava no sangue de seus filhos”; “Teus ombros suportam o mundo” (Carlos Drummond de Andrade);
Catacrese – é um tipo de metáfora ocasionada por:
1) falta de uma palavra específica: “pé da mesa”; “boca do
estômago”; “céu da boca”; “orelha do livro”; “dente de alho”; “barriga ou batata da perna”; “olho da agulha”; “De uma cruz ao longe os braços, vejo abrirem-se” (Castro Alves);
2) esquecimento etimológico (=queda do sentido original da
palavra): salário (de sal), secretária (de secreto), sabatinar (de sábado), tratante (de tratar), famigerado (de fama), marginal (de margem), rival (de rio)…
O exagero das hipérboles
A hipérbole é uma “metáfora exagerada”.
Existem exemplos famosos como “chorou rios de lágrimas” e outras bem populares: “já te disse mil vezes”; “explodiu de tanto comer”; “fez tudo num piscar de olhos”…
Leitor atento quer saber se eu considero claras as frases: “o total de manifestantes era equivalente ao de dois Maracanãs lotados” e “com esse dinheiro daria para comprar cinco apartamentos na Vieira Souto”.
Concordo com o nosso leitor. Não são comparações claras. No caso do Maracanã, nunca sei se o gramado está incluído como acontece em shows ou eventos especiais. Pior é o caso dos apartamentos da Vieira Souto. Juro que não sei exatamente o seu valor. É só consultar a seção de classificados dos nossos jornais para constatar que a variedade dos preços é grande.
O que fica é uma ideia imprecisa. Temos apenas uma certeza: é muita gente e muito dinheiro.
Prefiro outros tipos de comparação: “com esse dinheiro daria para construir dois hospitais”; “com esse dinheiro daria para pagar o 13º dos servidores”… Dessa forma, parece que o leitor teria uma maior compreensão do fato, não quanto aos valores, mas certamente teria uma ideia melhor da sua perda.
Em todo caso, é sempre bom evitarmos comparações exageradas e de difícil compreensão.
Vamos, então, fazer um teste final: um escritório em que caberiam vinte milhões de caixinhas de fósforo é grande ou pequeno?
Texto 4
A catacrese e a catapulta
O elemento de origem grega “cata” significa “para baixo”. Deve ser por isso que você nunca viu uma catarata jogando água “para cima”. Catarata é uma queda d’água.
Quem já assistiu a filmes que retratam guerras medievais deve ter visto uma catapulta em ação. Era uma arma de combate usada como alavanca para jogar bolas de fogo ou pedras por cima dos muros dos castelos.
Outro dia, lendo um artigo sobre música popular, encontrei esta pérola: “Foi esta música que catapultou a banda para a fila do gargarejo da MPB”. Fico imaginando qual tenha sido a interpretação do leitor que não tem a mínima ideia do que seja uma catapulta. Para quem ainda não entendeu, o crítico queria dizer que a tal música fez tanto sucesso que levou repentinamente a tal banda para os primeiros lugares das paradas de sucesso da nossa música popular.
E o que a catacrese tem a ver com tudo isso?
Catacrese é o nome que se dá para aquela metáfora que deixou de ser metáfora, que perdeu seu sentido figurado. É a “queda” da metáfora. Catacrese é a “metáfora fossilizada”.
Para ficar mais claro, vejamos alguns exemplos.
O alho não é dente nem nunca teve um dentinho sequer, mas você sabe qual é o nome do “dente de alho”? É dente de alho mesmo. Isso não significa que um conjunto de dentes de alho forme uma “dentadura”.
Você já viu estrelas no “céu da boca”? E umbigo na “barriga da perna”? E mamilos no “peito do pé”?
É interessante observar que a criação é metafórica, pois é feita a partir de uma comparação por semelhança.
A panturrilha é também chamada de “barriga da perna” por sua semelhança com uma barriga. Tanto é verdade que outros acham a panturrilha parecida com uma batata. Daí a “batata da perna”.
Para terminar, uma lista de catacreses: olho da agulha, cabeça do alfinete, perna da cadeira ou da mesa, cabelo do milho, boca do estômago, braço do sofá…
Resumindo:
Hipérbole – consiste no exagero de uma ideia e assim conseguir maior expressividade para enfatizar determinada situação: “Já te disse mil vezes”; “Fez tudo num piscar de olhos”; “Vai explodir de tanto comer”; “Rios te correrão dos olhos se chorares”; “Roma inteira nadava no sangue de seus filhos”; “Teus ombros suportam o mundo” (Carlos Drummond de Andrade);
Catacrese – é um tipo de metáfora ocasionada por:
1) falta de uma palavra específica: “pé da mesa”; “boca do
estômago”; “céu da boca”; “orelha do livro”; “dente de alho”; “barriga ou batata da perna”; “olho da agulha”; “De uma cruz ao longe os braços, vejo abrirem-se” (Castro Alves);
2) esquecimento etimológico (=queda do sentido original da
palavra): salário (de sal), secretária (de secreto), sabatinar (de sábado), tratante (de tratar), famigerado (de fama), marginal (de margem), rival (de rio)…
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