À velha e sincera esperança por um mundo melhor se contrapõe a desconfiança de que os países não superarão suas diferenças e a defesa de seus próprios interesses. A opinião da sociedade, nestes casos, muitas vezes é o que menos importa.
PAULO MOUTINHO*
é doutor em Ecologia, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do IPAM e pesquisador associado do Woods Hole Research Center. Ele participa como convidado da cobertura de ÉPOCA da COP 15.
é doutor em Ecologia, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do IPAM e pesquisador associado do Woods Hole Research Center. Ele participa como convidado da cobertura de ÉPOCA da COP 15.
Mas, então, o que esperar de Copenhague, além do já não tão frio inverno nórdico? Particularmente, acredito na esperança. Na responsabilidade e respeito com aqueles que nos sucederão. Digo isto por alguns motivos básicos, em relação aos quais o Brasil e a sociedade brasileira têm um papel importante. Primeiro, o sentido de urgência hoje é muito maior do que aquele no passado e que permeou a negociação do Protocolo de Quioto. As evidências dos impactos climáticos, especialmente sobre as economias dos países são muito mais fortes agora.
Em 2006, Nicholas Stern já anunciava uma potencial perda de muitos trilhões de dólares na economia mundial se ficássemos de braços cruzados sobre o assunto. Estudo recente estimou que o Brasil perderá 2 trilhões de dólares até 2050 com os impactos econômicos da mudança climática sobre a agricultura, florestas e energia se seguirmos com a mesma trajetória de desenvolvimento carbono-intensiva e demandadora de desmatamento. Se servir de consolo, o mundo gastou vários trilhões para conter a recente crise financeira, mostrando que se quisermos combater a mudança do clima dinheiro pode não ser um problema intransponível.
Fico mais crente na esperança em Copenhague ao ver os recentes posicionamentos dos países sobre os esforços de redução de emissões e o Brasil teve um papel importante neste caso. O país sempre encarou com reservas a questão de metas de redução de emissões para países em desenvolvimento, mas foi capaz de dar um salto e estabelecer uma meta para o desmatamento (80% de redução abaixo de uma média histórica – 19 500 km2 - até 2020), e, em seguida, uma meta nacional (aprox. 35-40% de redução sobre as emissões projetadas para 2020; em outras palavras, entre 15-17% abaixo das emissões de 2005).
Mesmo que voluntária e ainda insuficiente (poderíamos fazer muito mais), a meta brasileira tem um potencial enorme de mudar o curso das negociações internacionais em Copenhague. Pela primeira vez um país em desenvolvimento e grande emissor assume um discurso que poderá derrubar o principal argumento dos países ricos para não fazerem mais do que já estão fazendo: que os países em desenvolvimento não querem assumir compromissos mais sérios de redução de emissões. Nos últimos anos, o Brasil já vinha dando sinais de mudança em sua posição sobre como tratar as emissões de carbono oriundas do desmatamento. O lançamento do Fundo Amazônia, que teve apoio inicial do governo Norueguês, é uma amostra desta mudança. Coincidência ou não, a reversão de posição conjunta da anunciada intenção americana e chinesa de expressar em Copenhague somente pretensões políticas de redução pode ter sido um resultado do constrangimento provocado por iniciativas como as do Brasil que, sem ser obrigatório, assumiu metas voluntárias.
Ambos os países acabaram de anunciar suas metas. Tímidas ainda, mas anunciaram algo quantitativo. É também interessante notar a timidez e a cautela com que os governos apresentam quando o assunto são as metas de redução de emissões. O medo de que reduzir emissões levará a uma redução de crescimento econômico é evidente. Não foi diferente no Brasil. A discussão sobre as metas brasileiras sobre o quanto o país poderia reduzir de emissões mostrou o receio do governo de que as metas anunciadas prejudicariam o crescimento do PIB.
Aparentemente, a falsa ideia de que não será possível crescer economicamente no futuro a não ser através do atual modelo carbono (fóssil) intensivo ainda é arraigada nos governantes. Assume-se que, para crescer, muito óleo terá que ser ainda queimado. Desconsidera-se totalmente o fato de que um crescimento econômico futuro vigoroso num mundo aquecido, se dará em países que tomarem as decisões certas hoje: conservação de florestas (grandes armazéns de carbono e biodiversidade), desenvolvimento tecnológico de energias limpas e renováveis, uma indústria e agricultura sustentáveis e ambientalmente amigáveis e um destino mais nobre ao petróleo. Esquecem-se ainda que decisões em favor da conservação das florestas brasileiras, da redução do desmatamento, combinado com a redução de emissões de outros setores (transporte e energia) representa um tipo de poupança ou investimento de longo prazo.
Aquilo que parece ter um custo econômico elevado hoje representa prevenção de grandes prejuízos econômicos no futuro, advindos da mudança do clima. Basta dizer que a conservação da Amazônia, por exemplo, representará na prevenção de bilhões de dólares em prejuízos para o Brasil e para o mundo como um todo. O que quero dizer é que parte significativa do crescimento futuro do PIB do Brasil poderá ser resultante da uma economia de baixo carbono que decidirmos implementar hoje. Em Copenhague estarão sendo debatidos os mecanismos de Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação florestal (o tal REDD), do qual o Brasil poderá se beneficiar economicamente. Com metas e aproveitando bem o que o REDD poderá oferecer em termos de compensação pelos esforços de redução do desmatamento, o Brasil poderá entrar na nova década na vanguarda da economia de baixo carbono. Só depende de nós brasileiros.
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